Protesto em frente ao Congresso para exigir a demissão do presidente, em Brasília, Brasil, quarta-feira, 30 de junho de 2021. Um novo pedido de impeachment foi feito contra o presidente Jair Bolsonaro por corrupção relacionada à compra de vacinas COVID-19 foi apresentado na quarta-feira à Câmara dos Deputados, aumentando a pressão que o líder enfrenta enquanto prosseguem as audiências no Senado sobre seu tratamento da pandemia. AP - Eraldo Peres


Texto por: Raquel Miura

Protestos e escândalos elevam pressão contra o governo, mas a avaliação é de que hoje os protagonistas políticos do processo, agraciados com emendas e cargos, seguram Bolsonaro no poder. A pergunta é: até quando?

Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

Políticos eanalistas frisam advérbios temporais como ‘ainda’, ‘por enquanto’, ‘no momento’ para dizer que não existe hoje ambiente para cassar o mandato do presidente Jair Bolsonaro, mas que a situação pode virar e que é difícil prever como findará o cenário político de 2021.

“Depende de fatos novos, de pressão popular, de pressão sobre os atores políticos. Não podemos dizer que o impeachment está dado, mas também não podemos dizer que ele não acontecerá. A política é um processo e é preciso acompanhá-lo", disse à RFI o cientista político Carlos Melo. Ele lembra que novos protestos contra o presidente estão marcados para o fim de semana e, na CPI, o caso dos irmãos Miranda e a suspeita em torno da compra da Covaxin abriram nova frente de apuração. "Pode surgir mais coisa? Pode. Então não dá para afirmar que teremos ou não impedimento de Bolsonaro.”

Uma das análises que circula nos corredores de Brasília é a de que a suspeição do líder do governo, Ricardo Barros (PP/PR), trazido ao cerne do escândalo das vacinas após o depoimento de Luis Miranda, reforçou o poder do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL), na base de apoio a Bolsonaro. Os dois eram pilares do governo no Legislativo e ao mesmo tempo se contrabalanceavam. Enfraquecido um, alarga-se o ombro do outro.

Depende de Lira o seguimento dos processos políticos contra o presidente. Pragmático, ele dá a entender que vai esticar a corda o quanto der, aproveitando recompensas orçamentárias gordas que têm sido garantidas aos amigos do rei em apuros, mas sempre de olho no nível da água em torno do barco, para decidir se chegou ou não hora de pular fora.

Outros fatores pesam no "clima" para impeachment

O cientista político Leonardo Barreto também falou à RFI e avalia que, além das tratativas políticas, a situação econômica do país terá peso no desfecho dos pedidos que querem retirar Bolsonaro do poder. Apesar de todo o desgaste que o presidente tem sofrido, Barreto afirma que ainda não há ambiente político para o impeachment por causa de três pontos principais:  

"O primeiro é que existe governabilidade. O Congresso está funcionando, reformas econômicas estão sendo discutidas, então é difícil nesse estágio construir consenso, especialmente no meio empresarial, de que vale interromper um mandato", explicou. "Segundo, porque o governo tem mantido as pontes com as forças políticas, não mede esforços para atender sua base, com um orçamento quase que todo dedicado a pagar emendas e liberar recursos a seus aliados. E em terceiro, há uma expectativa de crescimento econômico este ano, na casa de 5%. Muitos formadores de opinião acham que um impeachment agora poderia comprometer a recuperação econômica”, ponderou Barreto.

Rejeição aumenta

O documento apresentado nessa quarta-feira à Câmara dos Deputados foi apelidado de superpedido de impeachment, por contar com apoio de parlamentares de direita e de esquerda, juristas e entidades civis, além de reunir argumentos de documentos anteriores, já protocolados contra Jair Bolsonaro, que se somam aos escândalos mais recentes. “Ele unifica os 123 pedidos de impeachment que já tramitam na Casa; reúne 23 tipos penais diferentes praticados pelo presidente da República; reúne dezenas de entidades da sociedade brasileira e traz a assinatura de parlamentares das mais diversas correntes da nossa política”, ressaltou Alessandro Molon (PSB-RJ).

Do líder dos sem teto Guilherme Boulos (PSOL/SP) à deputada Joice Hasselmann (PSL/SP), o superpedido foi protocolado na Mesa Diretora da Câmara com 46 signatários, mas depois outras pessoas, em especial políticos, assinaram a peça.

“É algo histórico, uma causa suprapartidária, contra um presidente criminoso, corrupto. É uma questão de moral, de valores, de rechaçar uma ação criminosa que levou a mais de 500 mil mortos”, afirmou o deputado Kim Kataguiri (DEM/SP), que fez ampla campanha para Bolsonaro em 2018. 

rfi.fr


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