O que chamo de organização, é ter toda a seriedade na mínima luta que se faça contra as oligarquias, uma manifestação não deve ser considerada uma festa cívica, mas sim uma ação cívica
Quanto maior a organização mais fácil será a luta
por Rogério Maestri
Lutas políticas geralmente não são cirandas, festas de São João ou quermesses. Quando um lado está totalmente com a supremacia o outro lado cede e a luta pode se transformar numa grande festa democrática, porém quando não há essa supremacia e os interesses sobre as mudanças a serem realizadas, esse embate entre as partes é duro e tanto violento quanto for os interesses envolvidos.
No Brasil o golpe contra a Dilma como pegou as forças ao seu lado totalmente despreparadas e desmobilizadas o golpe foi jurídico-parlamentar e não houve violência exatamente pela quase rendição das forças contra o golpe. Não podemos esquecer que Lula foi preso e se não houvesse uma série de percalços nas forças golpistas como a própria eleição de Bolsonaro, que nunca foi o candidato preferencial da grande burguesia, essa eleição colocando alguém totalmente inábil a gerir o Estado e o outro grande acontecimento aleatório, que foi a pandemia, algo que ninguém tinha a capacidade de prever, os caminhos seriam outros e por exemplo Lula morreria dentro da cadeia com mais todos os políticos que ousassem a apoia-los abertamente.
Mas apesar de todos os percalços dos golpistas, como Bolsonaso e sua inabilidade e uma pandemia que não ocorria há mais de um século, os golpistas conseguiram magistralmente executar uma série de mudanças que simplesmente colocaram o país na rota da fome, desemprego em massa e venda de uma parte significativa do patrimônio público. Ou seja, o sonho de consumo do neoliberalismo conseguiu se realizar em parte no país.
São esses os interesses políticos que estão em jogo, uma continuidade da exploração a fome de mais de 50% da população brasileira, uma taxação não da riqueza mas sim do trabalho, um sucateamento do serviço público, a precarização do trabalho, a isenção de impostos dos bancos e dos ricos e mais algumas dezenas de maldades que inventaram ou que já existiam, como por exemplo uma polícia política que junto do judiciário é a maior força de repressão as reivindicações populares.
Achar que esse paraíso na Terra para no país mais desigual do MUNDO, será revertido por boa vontade das oligarquias financeiras, políticas, jurídicas e militares é um sonho numa noite de verão, essas oligarquias em conjunto utilizando todas as armas que possuem com o apoio dos seus patrões do Imperialismo, não permitirão um retrocesso de seus benefícios e para isso lutarão até o último sangue de seus capangas.
Essa última frase pode parecer pessimista, porém é real, entretanto temos uma única chance de evitarmos que os capangas entrem em combate, é a ORGANIZAÇÃO. O que chamo de organização, é ter toda a seriedade na mínima luta que se faça contra as oligarquias, uma manifestação não deve ser considerada uma festa cívica, mas sim uma ação cívica, ou seja, qualquer movimento deve ser bem pensado, bem disciplinado e relativamente verticalizado. Devemos ver que movimentos de massas como os ocorridos na Grécia (Syiriza), Espanha (Podemos), França (Coletes Amarelos) e mais dezenas de revoltas populares foram traídos como no caso do Syriza, transformados a insignificância como no caso do podemos e ficaram em suspensão devido a pandemia, como no caso dos coletes amarelos. Todos esses movimentos eram fortes e extremamente populares, porém como se tratava de movimentos horizontais, sem nenhuma organização formal, foram tragados pela sua própria forma de organização.
Sociólogos, cientistas sociais e jornalistas adoraram esses novos movimentos pois retratavam a insatisfação da população da forma mais espontânea e desorganizada possível, ou seja, presas fáceis de toda e qualquer superestrutura, como a imprensa pronta para enquadrá-los e depois de digeridos, cuspidos fora como um movimento que contrapunha uma ordem econômica global estabelecida.
Contra reivindicações genéricas mais reais, os Estados mentiam para todos dizendo que era impossível de satisfazê-las devido a falta de recursos, puxavam suas planilhas elaboradas em instituições econômicas globais e dentro da lógica que a política neoliberal parecia impenetrável, chamavam de tolos todos aqueles que queriam mudanças. Como os movimentos eram horizontais e não havia uma só direção que mostrasse que tudo que era pedido era possível, os movimentos foram superados. Com a pandemia trilhões saíram dos cofres dos bancos centrais e esses mesmos valores que saíam dos cofres foram utilizados para garantir o sistema financeiro e as grandes indústrias, ou seja, quantidades muito maiores do que as solicitadas por milhões de militantes desses movimentos horizontais, apareceram rapidamente mas não para os milhões de pessoas, apareceram para algumas dezenas de bilionários que ficaram mais ricos numa velocidade turbinada em relação ao seu enriquecimento dos anos anteriores. Ou seja, a pandemia nos mostrou o que muitos sabiam, que os recursos existem, mas não para todos.
O que estou chamando atenção são duas coisas, para que tenhamos sucesso na inversão da pauperização da imensa maioria da população planetária, temos primeiro que nos ORGANIZARMOS VERTICALMENTE e segundo que os recursos físicos e financeiros existem para quem necessita desde que quem sempre foi beneficiado deixe de ser, se aceitarmos essas duas premissas a luta será muito mais fácil simplesmente porque somos a imensa maioria e os capangas das oligarquias estarão em minoria e muito mais próximos a nós do que aos oligarcas.
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