Fernando Brito

A maré de lama dos negócios sombrios que se desenvolveram tendo como “oportunidade” a compra de vacinas contra a Covid vai se avolumando e não é difícil prever que novos deslizamentos acontecerão em breve, levando este lodo imundo à altura do queixo de um governo que, ao debater-se, só consegue afundar mais.

Pois é essa a situação: os personagens que vão submergindo nesta lama, ao tentarem empurrar um para o outro as responsabilidade só conseguem fazer subir o lodaçal e evidenciar um traço comum: todos pertencem aos círculos sombrios do bolsonarismo.

Desde a noite de ontem, a podridão aflorou em vários episódios.

O “reverendo” Amilton Gomes de Paula, autorizado – sabe Deus porquê – a negociar vacinas pelo Ministério da Saúde, admitiu que o cabo Luiz Paulo Dominghetti ofereceu-lhe “uma doação” caso a venda se concretizasse. Um, digamos, “dízimo” vacinal, obsceno e farisaico.

O Globo
confirma que há outro coronel bolsonarista, cuja existência já havia sido apontada aqui, metido nos negócios do ministério, Hélcio Almeida, amigo do Secretário Executivo do MS, o também coronel Élcio Franco, ambos egressos – como Eduardo Pazuello – das Forças Especiais do Exército. Mas o caso não para aí: mesmo desconsiderando as ligações com Dominghetti, o que fazia um coronel azeitando negócios privados com a vacina que faltava ao SUS?

A reunião dos coronéis aconteceu na manhã do dia 12 de março e estava prevista na agenda oficial do ministério. Mas não era para falar com a Davati, e sim para tratar do “Contrato Beep”. Em tese, deveria servir para o dono de uma rede privada de vacinação do Rio de Janeiro, a Beep, dar sugestões para regulamentação da lei que permitia a compra de vacinas para o setor privado.
Mas, no horário marcado, o coronel Helcio apareceu com Dominghetti, o executivo da Davati Cristiano Carvalho e o reverendo Amilton Gomes de Paula, da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), entidade religiosa com sede em Brasília.

O coronel Hélcio, recorde-se, preside uma organização que se dedica ao “fortalecimento dos movimentos ativistas conservadores”, que tem como dirigente, também, o empresário olavista Otavio Fakhoury, investigado na CPI das fake news.

O deputado e líder do Governo, Ricardo Barros, que seria o dono do “rolo” levado a Jair Bolsonaro, sente a mão pesada do “chefe” empurrando-o para o fundo da lama onde flutua faz tempo. O presidente retirou a indicação de um seu afilhado para a Agência Nacional de Saúde Suplementar (que regula os planos de Saúde). Roberto Vanderlei Rebello Filho. ex-chefe de gabinete de Barros, que já tem um cargo de diretor no órgão, havia sido indicado para presidir a ANS em dezembro e, ontem, uma mensagem ao Senado retirou seu nome, que não havia sido aprovado ainda.

E, numa operação provavelmente “soprada” por governistas, veio à luz uma autuação fiscal do abandonado Barros, por incapacidade de explicar R$ 2,2 milhões de sua renda, inchadíssima pelo que os auditores da Receita chamam de “engenharia” com empresas para simular operações financeiras. A multa aplicada ao ex-ministro da Saúde de Temer está, agora, em R$ 3,7 milhões.

Como se vê, há uma represa de dejetos apesentando rachaduras em vários pontos. A esta altura, parece difícil evitar um desastre de grandes proporções. 

tijolaco.net


Comentário(s)

-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;

Postagem Anterior Próxima Postagem

ads

ads