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| Steve Bannon, estrategista da eleição de Trump, é aliado da família de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente | Reprodução/Redes sociais |
Programas espiões que invadem celulares sem nenhum clique podem ser usados para monitorar adversários, coordenadores de campanha, deputados e juízes
São Paulo – As informações, trazidas por reportagem
do portal Uol, de que um integrante do chamado gabinete do ódio teria
feito gestões em evento em Dubai (Emirados Árabes) para comprar o
programa espião israelense DarkMatter (matéria escura, numa tradução
livre do inglês) são graves. Apontam para uma nova realidade no processo
eleitoral brasileiro de 2022. Segundo o Uol na segunda-feira (17), o
contato para a negociação teria sido feito por um emissário do vereador
Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) em uma feira na cidade árabe, em
novembro passado. O equipamento é usado “para monitorar e silenciar
opositores.
Se em 2018 a desinformação e as fake news
foram disseminadas em massa principalmente pelo WhatsApp, meio popular
em grupos de família, este ano sofisticados programas de espionagens
devem se somar às estratégias contra adversários políticos. As
consequências, diante da sanha autoritária de Jair Bolsonaro e sua
derrota eleitoral, hoje praticamente certa, devem acender todos os
alertas de parlamentares, instituições e sistema de Justiça.
No ano passado, o estrategista da campanha vitoriosa de Donald Trump em 2016, Steve Bannon, atacou o ex-presidente Lula e disse que a eleição de 2022 no Brasil é “a mais importante de todos os tempos na América do Sul”. Segundo ele, Lula é “o esquerdista mais perigoso do mundo”.
A desinformação, como se tem visto na questão das vacinas e na pandemia, continua sendo a principal estratégia do bolsonarismo. Mas a isso se juntam agora os softwares de espionagem. Eles monitoram passos e estratégias dos adversários, acompanham seus celulares, dos coordenadores de campanha, de deputados e juízes. “Podem saber, por exemplo, onde está o ex-presidente Lula agora, gravar reuniões que definem estratégias políticas”, diz Sérgio Amadeu, pesquisador de redes digitais e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC).
“São criminosos, apoiam ditaduras”
“No Brasil, além das mentiras, desinformação, violência e ameaças do gabinete do ódio, eles privatizaram a espionagem. Se a DarkMatter espiona até cidadãos nos Estados Unidos, imagina o que podem fazer no Brasil. São criminosos, apoiam ditaduras e vendem o programa para ditadores no mundo todo”, acrescenta o professor. Esses softwares invadem smartphones sem que se precise abrir qualquer mensagem, e por isso são chamados de Zero-Click.
O programa de spyware que estaria na iminência de chegar ao Brasil via “gabinete do ódio” não é o único. Há outros disponíveis no mercado, como Predator (da empresa Cytrox), DevilsTongue (Candiru) e Pegasus (NSO), por exemplo. O NSO Group, empresa israelense fabricante deste último software, é especializado em “inteligência cibernética para segurança e estabilidade globais”, como a própria empresa explica no seu site.
Amadeu defende que o Ministério Público precisa agir, por exemplo via ajuste de conduta, para que órgãos como Polícia Federal, Abin e mesmo Forças Armadas sejam impedidas de usar softwares de espionagem contra opositores, movimentos sociais, ambientalistas, lideres de direitos humanos. “Não só o Ministério Público dos Direitos Humanos, mas os deputados precisam interpelar isso”, alerta o pesquisador.
Deputado pede informações
O deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) enviou pedidos de informação ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ao comando do Exército e à Presidência da República, sobre “reuniões” de funcionários governamentais com representantes da DarkMatter e também Polus Tech e NSO.
“O programa DarkMatter é utilizado por ditaduras de extrema direita ao redor do mundo. Queremos saber qual interesse do “gabinete do ódio” nisso e quem está envolvido”, diz Valente no Twitter.
Não se sabe com exatidão o que há de concreto no país hoje, já que, no governo Bolsonaro, os programas de transparência ficaram “eclipsados”, sob a alegação de que são informações sigilosas. “Mas Pegasus, e outros instrumentos de espionagem, principalmente de celular, são adquiridos provavelmente por grupos paraestatais via gabinete do ódio”, diz Sérgio Amadeu.

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