O avanço das big techs sobre a máquina estatal dos EUA não é um fenômeno recente, mas vem se consolidando com o tempo. Peter Thiel e sua empresa Palan...
Diario do Centro do Mundo
diariodocentrodomundo.com.br
9–12 minutos
Por Reynaldo Aragon, jornalista especializado em geopolítica da informação e geopolítica da tecnologia
O avanço das big techs sobre a máquina estatal dos EUA não é um fenômeno recente, mas vem se consolidando com o tempo. Peter Thiel e sua empresa Palantir desempenham um papel central nesse processo, ampliando a influência privada sobre órgãos de inteligência e segurança. Ao mesmo tempo, a USAID, historicamente usada como ferramenta de soft power dos EUA, está sendo reconfigurada, enquanto empresas como X (ex-Twitter) e OpenGov assumem novas funções estratégicas.
Essa transição ocorre em meio a uma disputa interna no governo Trump, em que setores tradicionais do Estado resistem ao domínio total do trumpismo e das big techs. O risco global desse movimento é claro: um Estado capturado pelo complexo industrial da vigilância, operado por empresas privadas alinhadas a uma agenda tecnolibertária e de guerra cultural.
Desde 2016, Peter Thiel tem expandido sua influência dentro do governo americano, ocupando espaços estratégicos na defesa, segurança e inteligência. Sua empresa, Palantir, consolidou-se como um dos principais fornecedores de análise de dados para órgãos estatais, incluindo o Pentágono, CIA, FBI e Departamento de Defesa.
Além dos EUA, Palantir tem contratos com governos da Europa, Ásia e América Latina, fornecendo tecnologia para forças armadas, combate ao terrorismo, imigração e até infraestrutura pública. Esse domínio transforma a empresa em um pilar essencial para a formulação de políticas de segurança e inteligência, colocando-a no centro do complexo civil-militar da guerra híbrida.
O objetivo não é apenas o lucro, mas o controle da máquina estatal para favorecer a agenda ideológica do MAGA e do tecno-libertarianismo. A empresa de Thiel não apenas executa contratos, mas define estratégias políticas e militares, criando um modelo onde corporações privadas controlam o Estado em vez do contrário.
A USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) sempre foi um dos principais instrumentos de soft power dos EUA, operando como um braço da CIA para desestabilizar governos e promover interesses geopolíticos norte-americanos. Apesar de se apresentar como uma agência humanitária, sua atuação incluiu o financiamento de ONGs e movimentos políticos alinhados a Washington, além da interferência direta em eleições e crises institucionais pelo mundo. Agora, há um movimento para dissolver a USAID e incorporá-la ao Departamento de Estado, o que não significa sua extinção, mas sim uma reformulação.
Em paralelo, novas ferramentas estão assumindo seu papel: Palantir, X (de Elon Musk) e OpenGov, que combinam vigilância, manipulação da informação e influência política sob um novo modelo mais privatizado. O resultado é um soft power digitalizado, onde redes sociais, coleta massiva de dados e algoritmos substituem o método tradicional de influência política. Em vez de ONGs operando no terreno, temos big techs moldando narrativas e direcionando políticas externas, com alcance global e controle quase absoluto da informação.
Com a reconfiguração da USAID e a ascensão de empresas como Palantir, X e OpenGov, estamos testemunhando a fusão definitiva entre big techs e o Estado norte-americano. Essas corporações não apenas prestam serviços ao governo, mas influenciam políticas públicas, controlam fluxos de informação e determinam estratégias de segurança nacional.
O caso da Palantir é emblemático: sua tecnologia é utilizada por governos do mundo todo para monitoramento, defesa e guerra híbrida, tornando-a tão ou mais influente que as próprias agências de inteligência dos EUA. Já o X de Elon Musk assume o papel de ferramenta de manipulação ideológica, promovendo conteúdos alinhados ao tecno-libertarianismo e suprimindo vozes dissidentes.
O controle estatal tradicional está sendo substituído pelo domínio corporativo, onde empresas privadas, sem qualquer escrutínio democrático, passam a ditar políticas de Estado. Esse modelo garante vantagens econômicas e ideológicas para as big techs, ao mesmo tempo, em que fortalece a agenda trumpista e do MAGA.
Apesar do avanço das big techs sobre o Estado norte-americano, há uma disputa interna intensa entre setores tradicionais do governo e a nova elite trumpista. Militares, republicanos conservadores e burocratas da velha guarda resistem ao domínio total do MAGA e das corporações tecno-libertárias.
A tensão é evidente: enquanto Elon Musk, Peter Thiel e aliados buscam aparelhar instituições estratégicas, há setores do establishment que não querem ceder completamente o controle da máquina estatal para essa nova ordem digital. A dissolução da USAID, a privatização da inteligência e o fortalecimento da vigilância digital são vistos como passos arriscados até mesmo por setores republicanos mais moderados.
Esse embate interno pode determinar o futuro da hegemonia dos EUA e sua forma de atuação no mundo. Se a ala trumpista vencer, o modelo tradicional de controle estatal será substituído por uma governança privatizada, onde as grandes empresas de tecnologia definem o rumo da política global.
A captura do Estado norte-americano pelas big techs não é apenas um problema interno dos EUA, mas uma ameaça global. Se empresas privadas como Palantir, X e OpenGov assumirem o controle da inteligência, da segurança e da política externa norte-americana, o impacto será sentido em todas as regiões do mundo, especialmente no Sul Global. Esse novo modelo de poder acelera a expansão da vigilância digital em escala global, permitindo a coleta massiva de dados e manipulação de informações para favorecer interesses geopolíticos dos EUA.
Além disso, a substituição dos métodos tradicionais de soft power pelo uso intensivo de inteligência artificial e guerra informacional tornará as estratégias de desestabilização ainda mais sofisticadas e eficazes. Outro risco grave é a privatização das relações internacionais, onde decisões estratégicas e acordos comerciais e militares não serão mais conduzidos por Estados soberanos, mas por corporações alinhadas a ideologias extremistas como o MAGA e o tecno-libertarianismo.
Isso significa que interesses corporativos substituirão os princípios da soberania nacional, e países que não se enquadrarem nesse modelo poderão ser alvos de sanções digitais, guerra híbrida e manipulação informacional.
Para nações como o Brasil, a ascensão desse novo imperialismo digital representa um enorme desafio. O domínio das big techs sobre a máquina estatal dos EUA cria um cenário onde projetos nacionais soberanos arriscam serem sufocados por estruturas globais de controle da informação e do capital.
Esse modelo não apenas reconfigura a economia global, mas também impõe um novo patamar na guerra híbrida, onde a disputa geopolítica não se dá apenas no campo militar ou diplomático, mas na infraestrutura digital que controla a circulação de informações e a formação da opinião pública. Se essa fusão entre big techs e Estado se consolidar, estaremos diante de um sistema de dominação sem precedentes, no qual uma elite corporativa detém controle total sobre a informação, a economia e a segurança global, sem qualquer controle democrático.
Para países como o Brasil, esse cenário representa um novo patamar de ameaça. A fusão entre big techs e o aparato estatal dos EUA significa que a guerra híbrida será cada vez mais sofisticada, utilizando manipulação algorítmica, censura seletiva e vigilância massiva para influenciar políticas e desestabilizar governos que não se alinhem a essa nova ordem. Se antes a disputa geopolítica se dava em campos diplomáticos e militares, agora a infraestrutura digital se torna a nova trincheira do imperialismo.
O futuro dependerá da capacidade de resistência dos Estados soberanos diante dessa nova fase da guerra cultural e informacional. O que estamos presenciando é a substituição do Estado tradicional por um modelo de poder descentralizado, mas altamente concentrado nas mãos de poucas corporações, que operam sem qualquer limite ético ou institucional.
O alerta está dado: a nova hegemonia global está sendo construída sob o signo do tecno-libertarianismo, da vigilância total e do controle absoluto da informação.
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9–12 minutos
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A empresa Palantir, de Peter Thiel, consolidou-se como um dos principais fornecedores de análise de dados para órgãos estatais dos EUA. Foto: Reprodução |
Por Reynaldo Aragon, jornalista especializado em geopolítica da informação e geopolítica da tecnologia
O avanço das big techs sobre a máquina estatal dos EUA não é um fenômeno recente, mas vem se consolidando com o tempo. Peter Thiel e sua empresa Palantir desempenham um papel central nesse processo, ampliando a influência privada sobre órgãos de inteligência e segurança. Ao mesmo tempo, a USAID, historicamente usada como ferramenta de soft power dos EUA, está sendo reconfigurada, enquanto empresas como X (ex-Twitter) e OpenGov assumem novas funções estratégicas.
Essa transição ocorre em meio a uma disputa interna no governo Trump, em que setores tradicionais do Estado resistem ao domínio total do trumpismo e das big techs. O risco global desse movimento é claro: um Estado capturado pelo complexo industrial da vigilância, operado por empresas privadas alinhadas a uma agenda tecnolibertária e de guerra cultural.
Desde 2016, Peter Thiel tem expandido sua influência dentro do governo americano, ocupando espaços estratégicos na defesa, segurança e inteligência. Sua empresa, Palantir, consolidou-se como um dos principais fornecedores de análise de dados para órgãos estatais, incluindo o Pentágono, CIA, FBI e Departamento de Defesa.
Além dos EUA, Palantir tem contratos com governos da Europa, Ásia e América Latina, fornecendo tecnologia para forças armadas, combate ao terrorismo, imigração e até infraestrutura pública. Esse domínio transforma a empresa em um pilar essencial para a formulação de políticas de segurança e inteligência, colocando-a no centro do complexo civil-militar da guerra híbrida.
O objetivo não é apenas o lucro, mas o controle da máquina estatal para favorecer a agenda ideológica do MAGA e do tecno-libertarianismo. A empresa de Thiel não apenas executa contratos, mas define estratégias políticas e militares, criando um modelo onde corporações privadas controlam o Estado em vez do contrário.
A USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) sempre foi um dos principais instrumentos de soft power dos EUA, operando como um braço da CIA para desestabilizar governos e promover interesses geopolíticos norte-americanos. Apesar de se apresentar como uma agência humanitária, sua atuação incluiu o financiamento de ONGs e movimentos políticos alinhados a Washington, além da interferência direta em eleições e crises institucionais pelo mundo. Agora, há um movimento para dissolver a USAID e incorporá-la ao Departamento de Estado, o que não significa sua extinção, mas sim uma reformulação.
Em paralelo, novas ferramentas estão assumindo seu papel: Palantir, X (de Elon Musk) e OpenGov, que combinam vigilância, manipulação da informação e influência política sob um novo modelo mais privatizado. O resultado é um soft power digitalizado, onde redes sociais, coleta massiva de dados e algoritmos substituem o método tradicional de influência política. Em vez de ONGs operando no terreno, temos big techs moldando narrativas e direcionando políticas externas, com alcance global e controle quase absoluto da informação.
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USAID: a agência sempre foi um dos principais instrumentos de soft power dos EUA. Foto: Reprodução |
Com a reconfiguração da USAID e a ascensão de empresas como Palantir, X e OpenGov, estamos testemunhando a fusão definitiva entre big techs e o Estado norte-americano. Essas corporações não apenas prestam serviços ao governo, mas influenciam políticas públicas, controlam fluxos de informação e determinam estratégias de segurança nacional.
O caso da Palantir é emblemático: sua tecnologia é utilizada por governos do mundo todo para monitoramento, defesa e guerra híbrida, tornando-a tão ou mais influente que as próprias agências de inteligência dos EUA. Já o X de Elon Musk assume o papel de ferramenta de manipulação ideológica, promovendo conteúdos alinhados ao tecno-libertarianismo e suprimindo vozes dissidentes.
O controle estatal tradicional está sendo substituído pelo domínio corporativo, onde empresas privadas, sem qualquer escrutínio democrático, passam a ditar políticas de Estado. Esse modelo garante vantagens econômicas e ideológicas para as big techs, ao mesmo tempo, em que fortalece a agenda trumpista e do MAGA.
Apesar do avanço das big techs sobre o Estado norte-americano, há uma disputa interna intensa entre setores tradicionais do governo e a nova elite trumpista. Militares, republicanos conservadores e burocratas da velha guarda resistem ao domínio total do MAGA e das corporações tecno-libertárias.
A tensão é evidente: enquanto Elon Musk, Peter Thiel e aliados buscam aparelhar instituições estratégicas, há setores do establishment que não querem ceder completamente o controle da máquina estatal para essa nova ordem digital. A dissolução da USAID, a privatização da inteligência e o fortalecimento da vigilância digital são vistos como passos arriscados até mesmo por setores republicanos mais moderados.
Esse embate interno pode determinar o futuro da hegemonia dos EUA e sua forma de atuação no mundo. Se a ala trumpista vencer, o modelo tradicional de controle estatal será substituído por uma governança privatizada, onde as grandes empresas de tecnologia definem o rumo da política global.
A captura do Estado norte-americano pelas big techs não é apenas um problema interno dos EUA, mas uma ameaça global. Se empresas privadas como Palantir, X e OpenGov assumirem o controle da inteligência, da segurança e da política externa norte-americana, o impacto será sentido em todas as regiões do mundo, especialmente no Sul Global. Esse novo modelo de poder acelera a expansão da vigilância digital em escala global, permitindo a coleta massiva de dados e manipulação de informações para favorecer interesses geopolíticos dos EUA.
Além disso, a substituição dos métodos tradicionais de soft power pelo uso intensivo de inteligência artificial e guerra informacional tornará as estratégias de desestabilização ainda mais sofisticadas e eficazes. Outro risco grave é a privatização das relações internacionais, onde decisões estratégicas e acordos comerciais e militares não serão mais conduzidos por Estados soberanos, mas por corporações alinhadas a ideologias extremistas como o MAGA e o tecno-libertarianismo.
Isso significa que interesses corporativos substituirão os princípios da soberania nacional, e países que não se enquadrarem nesse modelo poderão ser alvos de sanções digitais, guerra híbrida e manipulação informacional.
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O presidente dos EUA, Donald Trump, e o bilionário Elon Musk, dono do X. Foto: Reprodução |
Para nações como o Brasil, a ascensão desse novo imperialismo digital representa um enorme desafio. O domínio das big techs sobre a máquina estatal dos EUA cria um cenário onde projetos nacionais soberanos arriscam serem sufocados por estruturas globais de controle da informação e do capital.
Esse modelo não apenas reconfigura a economia global, mas também impõe um novo patamar na guerra híbrida, onde a disputa geopolítica não se dá apenas no campo militar ou diplomático, mas na infraestrutura digital que controla a circulação de informações e a formação da opinião pública. Se essa fusão entre big techs e Estado se consolidar, estaremos diante de um sistema de dominação sem precedentes, no qual uma elite corporativa detém controle total sobre a informação, a economia e a segurança global, sem qualquer controle democrático.
Para países como o Brasil, esse cenário representa um novo patamar de ameaça. A fusão entre big techs e o aparato estatal dos EUA significa que a guerra híbrida será cada vez mais sofisticada, utilizando manipulação algorítmica, censura seletiva e vigilância massiva para influenciar políticas e desestabilizar governos que não se alinhem a essa nova ordem. Se antes a disputa geopolítica se dava em campos diplomáticos e militares, agora a infraestrutura digital se torna a nova trincheira do imperialismo.
O futuro dependerá da capacidade de resistência dos Estados soberanos diante dessa nova fase da guerra cultural e informacional. O que estamos presenciando é a substituição do Estado tradicional por um modelo de poder descentralizado, mas altamente concentrado nas mãos de poucas corporações, que operam sem qualquer limite ético ou institucional.
O alerta está dado: a nova hegemonia global está sendo construída sob o signo do tecno-libertarianismo, da vigilância total e do controle absoluto da informação.
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