"Filho de um protético preso por atuar sem diploma, Jair reage ao filme 'Ainda Estou Aqui' movido por mágoa da infância", revela Denise Assis
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Denise Assis
4–6 minutos
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Jair Bolsonaro - 20/02/2025 (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino) |
Ao ver a história de Rubens Paiva, a quem sempre tentou desqualificar por ressentimento e inveja da família, levar o Oscar, Jair Bolsonaro passou recibo. Ele nunca esqueceu os tempos em que, encarapitado sobre o muro da fazenda de Jaime Paiva, o patriarca - cuja piscina não podia acessar, a não ser como espectador, na infância no vale do Ribeira (interior de SP) -, ele via Veroca, Marcelo, Eliana, Ana Lúcia e Maria Beatriz, se refrescarem.
Filho de um protético que era chamado às dependências da fazenda para arrancar dentes infeccionados, dos funcionários, e acabou preso por prática de odontologia ilegal (sem diploma), Jair guardou dentro de si o sentimento que hoje o leva a reagir, não ideologicamente contra o filme “Ainda Estou Aqui”, mas movido por essa mágoa que traz da infância, revelada pelo seu filho, Flávio Bolsonaro, em um livro que escreveu com as memórias do pai.
Tanto é assim, que volta e meia ele saca insinuações em tom de ameaça, de revelar histórias que sabe, sobre a família, nos tempos do Vale do Ribeira. As insinuações, dizem respeito, segundo ele, à busca pelo Capitão Lamarca e seus companheiros de guerrilha. Ao ser entrevistado pelo influencer Léo Dias, sobre o que tinha achado sobre a vitória do filme, no Oscar, novamente sacou do bolso uma frase “enigmática”: “Deveriam ter me ouvido primeiro. Teria coisas a dizer sobre o Vale do Ribeira e o Lamarca”.
Na entrevista, disse que para falar sobre a história da família Paiva - que ele afirma ter conhecido -, seria necessário falar da cidade de Eldorado Paulista (no Vale), onde o ex-presidente nasceu. “Você tem que falar de maio de 70 quando passou o Lamarca na cidade. Por que o Lamarca achou aquele lugar de guerrilha? Pode ser que não tem (sic) nada a ver com o Rubens Paiva”.
Não. Não tem mesmo. Tem a ver com um documento produzido pelos arapongas do tempo da ditadura, que joga no ar uma especulação que não restou provada. Do contrário, Jaime Paiva, o pai de Rubens Paiva, talvez tivesse também sido preso e desaparecido. O que Jair Bolsonaro desconhece, é que ao pesquisar para a Comissão da Verdade do Rio – CEV-Rio, a história do desaparecimento de Rubens Paiva, eu encontrei o documento. E ele nada contém além do que a ditadura costumava fazer, quando “colava em alguém”. Buscava pelo em ovo. Em não encontrando, criava o que hoje chamaríamos de fake news.
O documento, emitido em 15 de setembro de 1971 (com Rubens já morto, portanto), é recheado de expressões evasivas do tipo: “consta que”, “ele costumava”, “acredita-se que” ... A emissão foi do Ministério da Aeronáutica, pelo quartel general da Quarta Zona Aérea, pela Divisão de Investigações e Segurança, tem no cabeçalho o assunto: “Esconderijo de Lamarca”.
Com base nesse informe, com carimbos de “sigiloso” e “confidencial”, a repressão tentava lidar com o fantasma, de Paiva, pregando em sua história algo que fizesse sentido e justificasse a sua prisão e desaparecimento. Por exemplo, que sua família abrigou e acobertou a guerrilha empreendida por Lamarca e seus companheiros, quando passou por lá, fazendo treinamento na selva, com os seus guerrilheiros.
Basta uma olhada no informe, para jogar por terra as ameaças de Jair Bolsonaro. Tão vazias quanto os seus discursos de ódio. A propósito, Jair Bolsonaro: sua história jamais vai merecer um Oscar. A não ser no papel de vilão. Era esse o grande segredo que você guardou para contar? (Confiram abaixo o informe nº 182/DIS- 4)
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