É mais do que uma queixa o grito de Carlos Bolsonaro em defesa de Eduardo, diante do silêncio de figuras que deveriam apoiar o irmão nos ataques a Alexandre de Moraes. É um pedido de socorro. Dudu foi abandonado.
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Moisés Mendes
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É mais do que uma queixa o grito de Carlos Bolsonaro em defesa de Eduardo, diante do silêncio de figuras que deveriam apoiar o irmão nos ataques a Alexandre de Moraes. É um pedido de socorro. Dudu foi abandonado.
Muitos são os alvos do que Carluxo publicou esses dias nas redes sociais, quando cobrou, ao falar do risco de Eduardo perder o passaporte: “Onde andam os candidatos da “união da direita”, inquestionáveis e absolutos, mesmo com Jair Bolsonaro despontando mais uma vez?”
A união da direita está entre aspas, sugerindo uma ironia com o conjunto de nomes que se apresentam como possíveis sucessores de Bolsonaro, incluindo Tarcísio de Freitas, Caiado, Zema, Eduardo Leite e todos os que detêm liderança ou algum mandato.
Carluxo sabe onde eles andam e porque estão quietos. Porque não é da natureza do bolsonarismo, muito menos o disfarçado e dissimulado, salvar bolsonaristas em situações difíceis. E porque Eduardo pode ter passado dos limites.
São dois os ataques recentes com afrontas diretas do irmão ao ministro Alexandre de Moraes. O deputado disse em vídeo: “Tem que cortar minha língua, Alexandre de Moraes, para poder fazer eu parar. E você, a história vai demonstrar, vai cair e não vai demorar muito’.
Logo depois, escreveu nas redes sociais: “Alexandre de Moraes, iremos punir você. Acredite, você irá pagar por toda a maldade que cometeu, custe o que custar”.
São duas ameaças em uma semana. Carluxo não pode esperar que gente com ambições eleitorais, com a pretensão de ter alcance fora do cercado da extrema direita, vá endossar o que Dudu disse. Até porque não é hora de ir para o confronto com Moraes e o STF.
Eduardo joga pesado por se sentir ameaçado de perder o passaporte, sob a acusação de que conspira contra o próprio país ao atiçar parlamentares americanos trumpistas contra o Supremo e Moraes.
Mesmo que não pareça, ainda há resquícios de racionalidade no fascismo. Tanto que, no dia do anúncio de Caiado, avisando que Gusttavo Lima pode ser seu vice numa chapa à presidência, o sertanejo apareceu ao lado do véio de Havan.
O mais ativo militante do bolsonarismo no meio empresarial começa a voltar à ribalta, de novo de verde periquito, mas não ao lado de Bolsonaro. O catarinense, com dois inquéritos por golpismo, tocados por Moraes, corteja o cantor que se aliou a um dos desafetos de Bolsonaro na extrema direita.
O véio da Havan avisa à sua turma que está saltando fora do suporte a Bolsonaro e buscando alternativas, mesmo que seja ao lado do goiano que Bolsonaro detesta. E assim o bolsonarismo vai se reacomodando e sobrevivendo, já sem tanto apego a Bolsonaro.
Quem tomba aos pés de um fascista sabe que não será carregado nos ombros de ninguém e que ficará pelo caminho. Abandonam e são abandonados. Bolsonaro abandona Mauro Cid, que abandona os generais, que abandonam Bolsonaro e Mauro Cid, que em pouco tempo se sentirão abandonados por todos do entorno de Tarcísio.
A transição para o bolsonarismo sem Bolsonaro está sendo feita sem sutilezas. Começam a ser produzidas pesquisas que finalmente apresentam Tarcísio como protagonista, menos de um mês depois de o representante da extrema direita moderada aparecer mal em amostragens do verão.
Por que, pesquisadores, Tarcísio melhorou sua performance? Pode ser porque é a hora de apostar tudo no sujeito. Outros nomes do segundo e do terceiro times, como são o próprio Caiado, como são Zema e Ratinho, não funcionam.
As pesquisas passarão a se dedicar a Tarcísio, com o suporte de Globo, Folha e Estadão, como único nome capaz de enfrentar Lula. Enquanto isso, fracionada, dispersa, sem que Bolsonaro atue como força agregadora, a direita extremada vai se autodevorando.
O apelo de Carluxo é muito mais um recado do próprio Bolsonaro, para que continuem tentando salvá-lo. Mas o que Carluxo chama de ‘união da direita’ nunca salvou feridos com poucas ou nenhuma chance de sobrevivência e só finge tentar salvar os manés do 8 de janeiro.
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas 'Todos querem ser Mujica' (Editora Diadorim)
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