do GIZMODO BRASIL
A mulher aí de cima, a escritora Lucía Etxebarria, famosa na Espanha, desabafou legal no Facebook:
“Como hoje eu descobri que mais cópias ilegais do meu livro foram baixadas do que cópias legais foram vendidas, estou anunciado oficialmente que não vou publicar livros em um bom tempo. Pelo menos até que essa situação seja regulamentada de alguma maneira. A mim não agrada passar três anos trabalhando como um camelo para isso. Se quiser dar livros, farei cópias para meus amigos de Sebastian Venable.”
Depois disso ela escreveu um texto enorme que envolve até Hitler e Michelangelo, e continuou debatendo o tema com seus 15 mil fãs em vários posts menores. A pirataria está aí há anos, desde muito antes da Internet. A rede catapultou a prática a patamares nunca antes vistos, o que fez com que todos os envolvidos na produção artística e de conteúdo tivessem que escolher um lado: ou lutar contra ela, ou escavar oportunidades e jogar com a situação.
Veja, não estou defendendo a pirataria. Muito menos condenando-a. É errada? Sim, mas não totalmente como muitos artistas (é com vocês, Metallica) pintam. Não é preto no branco, é a escala inteira de cinza, nos mínimos nuances. Existem vários casos de artistas e empreendedores que, através da disseminação voluntária de conteúdo ou aproveitando-se das falhas dela, fizeram fortuna. Do Steam às bandas independentes, sobram exemplos de pessoas que souberam como conviver, apostando em preços baixos ou mesmo faturar com outros produtos que deram certo a partir da “publicidade gratuita”.
Pirataria literária
A pirataria de livros é um fenômeno recente. Não em sua essência (Portal Detonando se duvidar é mais velho que eu), mas em sucesso. A biografia de Jobs e “A Privataria Tucana”, de Amaury Ribeiro Jr., dividem as atenções com o último filme do Harry Potter e o disco novo da Britney Spears nos blogspots caolho e perna-de-pau da vida. O que explica essa guinada? De repente nos tornamos todos leitores compulsivos e interessados?
Não. A teoria mais aceita e lógica, embora carente de comprovação científica, é de que o meio pelo qual se dá a leitura evoluiu. Se antes o desconforto do computador para longas sessões de leitura era a única saída para os ebooks, hoje sobram outras bem mais confortáveis: ereaders, tablets e celulares com tela grande.
A Amazon vende muito, a biografia de Jobs, apesar da forte pirataria em países como o Brasil, fechou o ano como o livro mais vendido da loja em 2011 — e, em se tratando de Amazon, isso não é pouca coisa. No Brasil, estamos comprando e lendo mais. Formas facilitadas de produzir e distribuir obras literárias, como o Amazon Direct Publishing e o Clube de Autores, além de vendas diretas via email, como faz o Alex Castro, cumprem papel parecido com o do MySpace para a música na década passada.
A exemplo do que ocorre em outras áreas do entretenimento, na literatura também se vê algumas saídas para o problema. E como acontece muito nas outras, o preço dos livros acaba sendo também um entrave. Todos esperávamos que os ebooks viessem mais baratos, mas acabaram mais ou menos com o mesmo custo, para o leitor, de uma edição paperback. Para piorar, como diz a Lucía num dos posts da sua página no Facebook, para o autor, mesmo, o retorno é ínfimo perto do que custa a obra. Existem formas de explorar o sucesso (palestras, eventos), mas para um escritor atingir esse status é mais difícil até do que ex-BBB. Situação absolutamente ingrata, mas apenas um reflexo da nossa sociedade.
Se autores experientes se assustam e ficam indignados com esse mundo novo, oportunidades para novatos surgem. No Top 10 de mais vendidos da Amazon em 2011 estão dois contos de ilustres desconhecidos. Ebooks pequenos, que custam pouco mais de US$ 1, vendendo horrores, ganhando no volume. Estão, como diria qualquer “motivador” de beira de esquina, “espremendo os limões”. Outros formatos virão, o mercado se equilibrará sozinho. Posso estar sendo um pouco acomodado e excessivamente otimista, mas acredito mesmo naquela máxima de que “tudo termina quando termina bem”. No caso, provavelmente não para todos os escritores, mas para o modelo de negócios. [Estadão]
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