Acabo de ouvir o “debate” entre o imortal Merval Pereira e o âncora Carlos Alberto Sardemberg sobre o livro de Amaury Ribeiro Júnior na rádio CBN.
“A privataria tucana” é desqualificado como livro e seu autor acusado de ter sido um violador de sigilos fiscais dos parentes de José Serra, embora não haja ali um dado fiscal relativo a eles e todos os documentos sejam da CPI do Banestado, da Junta Comercial de São Paulo e de cartórios.
A argumentação sobre o livro é, basicamente, a seguinte:
1- Amauri não prova a ligação das boladas transferidas do exterior com a privatização das empresas públicas feitas no Governo FHC;
2- Não é crime ter empresas em paraísos fiscais, porque grandes empresas, como a Petrobras – que teria uma empresa na Holanda - as possuiriam também, para agilizar seus negócios e
3-As privativações já teriam recebido um atestado de honestidade pelo TCU, pela Justiça e pelas CPIs que as investigaram.
Ah, e um argumento pleno de “mérito”: as denúncias não seriam novas e Amaury é um homem processado por violação de sigilo.
Bem, de fato, não são novas. Porque faz anos que todos sabem, a começar pela grande imprensa, que as privatizações estiveram eivadas de pressões e negociações obscuras, “no limite da responsabilidade” como disse um de seus personagens.
O que o livro de Amaury Ribeiro faz de novo é provar, através de documentos, que existem situações inexplicáveis envolvendo seus personagens – e é bom lembrar que é o próprio FHC quem disse que ninguém fez mais pressão para privatizar a Vale e a Light que José Serra.
De fato, o livro não traz uma fotografia de alguém pegando um maço de dinheiro como nos panetones de Arruda. Até porque o montante dos negócios da privatização não era de milhões, mas de bilhões e não envolvia pequenos fornecedores, mas gigantes internacionais. Mas mostra o mecanismo usado para transferir recursos entre os beneficiários da venda das empresas e os supostos facilitadores do negócio.
Quanto a ter uma empresa em paraísos fiscais, é claro que muitos podem ter, seja uma empresa que faz negócios internacionais sejam aqueles que, por outras razões, as desejem ter, como fez o sr. Paulo Maluf nas Ilhas Jersey. Seria o caso de saber se Sardemberg e Mercal seriam tão compreensivos se, por exemplo, a filha da então candidata Dilma tivesse uma delas, nas Ilhas Virgens.
Mas é intrigante e todos gostariam se saber destes atestados de honestidade e, sobretudo, das CPIs que investigaram as privatizações federais. Devo ter deixado de ler os jornais. Ao contrário, só soube que a CPI do Setor Elétrico foi enterrada por um acordão entre o PT, o DEM, o PSDB e o PMDB, além de pequenos partidos. A CPI da Vale, solicitada pelo Deputado Brizola Neto, não alcançou número para ser instalada e a da Telefonia…alguém viu?
Quanto ao fato de Amaury estar sendo processado por uma quebra de sigilo que ele nega e da qual não resultou exposto nenhum documento protegido por este segredo legal isso, no máximo, o igualaria à filha de José Serra, que também responde por quebra de sigilo – este, bancário – não de algumas ,mas de 60 milhões de pessoas e que, com provas categóricas, como a reportagem da Folha mostrada aqui, expuseram o que não tinham direito legal de expor.
Mas, como é fácil compreender, Merval e Sardemberg não tem limites quando se trata de defender as privatizações e José Serra. Não se ia esperar mesmo deles uma análise ponderada dos fatos. Mas, sim, uma visível “tabelinha” para desmoralizar o livro.
O problema é que, justamente por isso, “A Privataria Tucana” não pára de vender, mais e mais. Recebo uma informação da Geração Editorial de que já não são mais 100 mil, mas 120 mil os exemplares da tiragem até agora mandada rodar.
Repercussão que já cruzou o Atlântico e bateu lá no jornal português Ionline, cuja matéria ilustra o post e pode ser lida, em pdf, aqui.
Postar um comentário
-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;