do BRASIL DE FATO

As nossas esperanças estão depositadas nos hackers. Os bancos que se cuidem
20/12/2011
Silvio Mieli
A luta contra o poder corporativo está se deslocando cada vez mais para a esfera digital da internet. E se empresas como a gigante Monsanto olham para o mundo como se fosse um imenso banco de dados à sua disposição, a resposta tem que ser dada na mesma moeda.

Com esse espírito, os Anonymous (coletivo descentralizado que atua principalmente através da prática hacker), devastaram o site e a base de dados da agência Bivings Group, uma empresa de relações públicas sediada em Washington, cujo objetivo era desenvolver programas de marketing para grandes corporações, principalmente para a Monsanto.
“A operação ‘acabar com a Monsanto’ está de pé e operante (...) Primeira vítima: a empresa Bivings”, dizia o comunicado dos Anonymous, inicialmente publicado no site pastbin (http://bit.ly/umDY9D) no dia 5 de dezembro.
O site do Bivings Group foi desfigurado e seu respectivo banco de dados invadido, o que franqueou aos Anonymous fazerem uma cópia de todo o seu conteúdo. Centenas de emails foram rastreados e a data-base relativa à Monsanto copiada. São informações preciosas de como a transnacional atua no front do marketing e das relações púbicas. Como desdobramento direto ou indireto do impacto do ataque, o grupo Bivings fechou as portas temporariamente e teve que mudar a sua razão social.
Em julho, os Anonymous já tinham conseguido derrubar o site da própria Monsanto comprometendo os emails corporativos da empresa. Na mesma ação revelaram-se os nomes, endereços e números de telefones de 2500 empregados e associados da megacorporação. Ao reivindicarem o ataque que atingiu um dos eixos da comunicação da Monsanto, os Anonymous, que sempre registram suas demandas em vídeos (http:// bit.ly/tMjgr6), denunciam os abusos corporativos da empresa e aliam-se àqueles que lutam contra a contaminação da cadeia alimentar global pelos alimentos geneticamente modificados.
Na introdução do livro A fábrica do homem endividado; ensaio sobre a condição neoliberal, o filósofo Maurício Lazzarato destaca, logo na introdução, a necessidade de nos aventurarmos em território inimigo e procurarmos construir algum tipo de arma que nos servirá para conduzir as lutas que se anunciam. Neste quesito, as nossas esperanças estão depositadas nos hackers. Os bancos que se cuidem.
Silvio Mieli é jornalista e professor universitário.
Texto publicado originalmente na edição 459 do Brasil de Fato.

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