Blog das Frases

Durante os últimos meses a mídia conservadora difundiu a idéia de que a Rússia vivia um estágio terminal de descrédito em relação ao governo, sugerindo a iminência de um levante popular contra os alicerces da corrupção e do autoritarismo. Não se diga que estes não existiriam. De um sistema político planejado para sancionar a transferência do patrimônio público ao controle de bandos oligárquicos não se deve esperar virtudes republicanas.

Raramente, porém, a abordagem, ao menos no Brasil, contemplou a resistência e o ressentimento de amplas camadas da sociedade russa em relação aos valores dos livres mercados, o que explicaria a má vontade em sancionar a instauração de um Estado fraco, sobre uma sociedade de joelhos, vencida e complacente com a espoliação de suas vísceras por apetites exacerbados pela crise neoliberal.

A população russa pode ser tudo, menos uma manada compacta de idiotas que, bovinamente, entregaria 64% dos votos a Putin, dando-lhe uma esmagadora 3ª eleição presidencial sem a necessidade de ir a 2º turno, em troca de nada. Como interpretar a colisão entre o vento de nacionalismo e Estado forte soprado das urnas e o prognóstico exatamente oposto, liberal privatista, martelado em manchetes categóricas? A mesma sensação de perplexidade avulta quando se compara o que aconteceu nas eleições parlamentares do Irã com a estridência de uma cobertura jornalística anti-regime, que já se notabilizou por ocultar dados essenciais da questão nuclear iraniana.

Primeiro, ela desqualificaria o pleito apostando na abstenção maciça contra o governo Ahmadinejad; frustrada a diáspora eleitoral pelo comparecimento expressivo das camadas populares, agora destaca-se a derrota de Ahmadinejad, que teria perdido cadeiras no parlamento para a oposição. Quer dizer então que a farsa transmudou-se automaticamente em marco democrático, na medida em que puniu o regime demonizado? Serão os iranianos tão maleáveis assim, a ponto de se transfigurarem de parvos em argutos eleitores, do dia para a noite?

Ou seremos nós, leitores, na concepção da mídia dominante, um bando de Homer Simpsons manejáveis impunemente pela ração diária de idiotia, semi-informação e meias-verdades que ela nos propicia?

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