Ele foi o líder da primeira grande greve contra a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Preso e torturado durante os anos de chumbo, ele foi exilado e entrou para a história do sindicalismo e da política, ao participar da fundação de várias centrais sindicais, além do Partido dos Trabalhadores (PT). Trata-se de José Ibrahim, que dá nome à biografia "José Ibrahim, a primeira grande greve que afrontou a ditadura", da jornalista e escritora Mazé Torquato Chotil, convidada desta sexta-feira (8) do RFI Convida.
A escritora e pesquisadora Mazé Torquato Chotil nos estúdios da Rádio França Internacional.Foto: RFI Brasil
Mazé Torquato Chotil explica que a motivação para escrever o livro veio do fato de José Ibrahim ser um grande líder sindicalista conhecido quando foi banido do país. "Mas as pessoas hoje não conhecem mais o José Ibrahim. Ele faz parte de uma certa história do sindicalismo brasileiro que deveria ser colocada em evidência", diz.
O trabalho foi, segundo a autora, "um resgate dessa memória muito importante para o sindicalismo atual". A escritora lembra que o mercado literário possui muitas biografias, mas não de personalidades ligadas ao sindicato. "Quando os militares usurpam o poder em 1964, a gente acha que vai demorar pouco, mas continua. Osasco era o grande centro industrial da época, uma industrialização que começou no início do século e, nesse período, tinha mais de cinco mil trabalhadores", conta Chotil.
Operário altamente capacitado
A escritora lembra que José Ibrahim, caçula de 11 filhos, fez parte da geração de "trabalhadores-estudantes" do primeiro liceu de Osasco, local de formação importante para o meio sindical. "Ele era também um operário altamente capacitado, fez o Senai. Mas era também um líder natural. O Ibrahim militava no sindicalismo pelas bases. Era preciso que o trabalhador se formasse e soubesse do que se fala", afirma.
Mazé conta que, preocupado com a redemocratização do Brasil em plena ditadura, José Ibrahim chega ao sindicato já falando em greve. Sobre o episódio onde o sindicalista é um dos nomes trocados pelo embaixador Charles Elbrick, a jornalista conta que "não podendo mais se manifestar livremente, Ibrahim aderiu à VPR, onde era responsável pela organização urbana. Mas ele é preso quatro ou cinco meses depois, e, após ser muito torturado, ele é finalmente trocado pelo embaixador. Ele vai viver o período do exílio em Cuba, depois segue para o Chile de Allende. Em seguida, se instala para continuar o trabalho numa região francesa da Bélgica".
Mazé Chotil diz que um dos trabalhos mais importantes de José Ibrahim no exílio foi conseguir reagrupar os sindicalistas que estavam na Europa. "Foi uma aprendizado com as várias centrais sindicais, francesas, europeias e do mundo inteiro. Isso vira um grande encontro que acontece finalmente em 1° de maio de 1979", relata.
Somar juntos
"Quando ele chegou ao Brasil", conta a autora, "a ideia era somar juntos. A gente precisava acabar com a ditadura e, neste momento, o Ibrahim ajudou a criar o PT, onde vai fazer parte da direção nacional, e a CUT, a Central Única dos Trabalhadores. Quando ele se candidata à presidência do partido e ganha 30% dos votos, acontece um mal estar em relação a Lula. Mas ele reconhece Lula como o grande líder dos operários. Ele deixou o PT, finalmente, porque acabou achando que não foi valorizado quando a CUT o rejeitou para o departamento de Relações Internacionais", diz Chotil.
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RFI