Os vídeos de cães reagindo a cenas de filmes são um clássico da Internet, mas não se pode dizer que eles saibam a o que exatamente estão assistindo


PABLO CANTÓ MARTÍNEZ

Existem cães que sabem sentar, dar a mão, trazer o jornal, deitar-se ou fingir de morto, e também existem alguns que assistem à televisão e acabam tendo milhares de visualizações no YouTube. Um dos últimos a se popularizar foi Falco, um pastor alemão que choraminga e uiva assistindo à cena de O Rei Leão em que o pai de Simba morre. Foi publicado em junho — ultrapassando um milhão de reproduções em dois meses — e apareceu em diferentes veículos de comunicação espanhóis durante a última semana de agosto, mas o cachorro sabe o que está acontecendo na tela?

Os vídeos de cães reagindo a programas de televisão ou filmes são um clássico da Internet. Neste ano, em fevereiro, se popularizou outro vídeo semelhante, no qual, além disso, outro cachorro assiste à mesma cena que Falco, a da morte de Mufasa. Embora possa parecer que, por sua reação, os cães saibam o que está acontecendo na tela, não há provas de que seja assim. “Não podemos pensar que eles veem ou entendem o mesmo que nós, e muito menos que se emocionem”, conta ao EL PAÍS o etólogo (especialista em comportamento animal) Daniel Ferreiro, membro do Colégio de Veterinários de Sevilha e diretor do Centro de Etologia Clínica D’animales. “Seria muito bonito pensar isso, mas as provas são, por enquanto, anedóticas”.

Ferreiro conta que um estudo de 2016 realizado com 320 cães de três raças diferentes (poodles, dachshunds e chihuahuas) observou que os cães reagiam à televisão de maneiras muito diferentes: alguns latiam, outros choramingavam, outros procuravam atrás da televisão e outros não reagiram de nenhuma maneira, inclusive dois cães da mesma casa podiam responder à televisão de duas maneiras diferentes. Essas reações parecem indicar que os cães prestam atenção e entendem que algo está acontecendo na tela, “mas a amostra do estudo não é muito grande e os resultados não podem ser generalizados”, explica.

Os resultados da pesquisa também mostraram uma diferença entre as raças ao assistir à televisão: entre os cães estudados, 52% dos poodles assistiam à televisão, enquanto apenas 11% dos dachshunds o faziam. O estudo também aponta que a educação dos animais também pode afetar no fato de eles prestarem atenção ou não à televisão. Entre os cães de terapia (treinados para ajudar no tratamento de uma pessoa doente) estudados, 60% assistiam à televisão, enquanto apenas 20% dos cães sem esse tipo de treinamento o faziam. “Os dados dos cães de terapia sugerem que o comportamento de assistir à televisão está relacionado à boa capacidade de comunicação entre cães e humanos”, defende o estudo.

Outro estudo publicado em 2013 na revista científica Animal Cognition apontou que os cães reconhecem outros cães na tela. Para isso, foram mostradas imagens de diferentes raças de cães e, simultaneamente, de outras espécies de animais, incluindo seres humanos. Todos os cães que participaram do estudo foram capazes de diferenciar as fotos dos cães, mas, novamente, a amostra do estudo é muito pequena para que o resultado seja generalizado: foram utilizados nove cães.




Imagens do estudo da ‘Animal Cognition’ que mostram a realização da experiência, projetando diferentes imagens de animais aos cães.
Imagens do estudo da ‘Animal Cognition’ que mostram a realização da experiência, projetando diferentes imagens de animais aos cães.


Visão de cães x visão humana

O que sabemos com certeza é que os cães não enxergam como nós. Embora o mito diga que os cães enxergam em preto e branco, não é verdade: “Percebem as cores, mas não conseguem perceber o leque inteiro”. Isso ocorre porque a visão dos cães percebe menos gamas de cores: enquanto nós temos uma visão tricromática (percebemos vermelho, verde e azul), os cães só distinguem entre azuis e amarelos. Abaixo é possível ver alguns exemplos de imagens como nós as vemos (à esquerda) e como os cães as veem (à direita). Você pode experimentar as imagens que quiser nesta ferramenta.




'O beijo', de Klimt.
'O beijo', de Klimt.
Fragmento de 'Amarelo, vermelho e azul', de Kandinsky.
Fragmento de 'Amarelo, vermelho e azul', de Kandinsky.
Fragmento de ‘O Jardim das Delícias’, de Bosch.
Fragmento de ‘O Jardim das Delícias’, de Bosch.

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