Bolsonaro comendo como um animal, com perdão aos animais. Fotos: reprodução |
O Sujismundo do Planalto acha que ser pobre é sinônimo de maus modos à mesa. Isso tem nome: preconceito de classe
Socialista Morena
6-7 minutos
Desesperado com a forte rejeição à sua reeleição entre as camadas mais pobres da sociedade, sobretudo no Nordeste (61%, segundo o último Datafolha), Jair Bolsonaro fez um vídeo neste domingo, 30 de janeiro, onde come frango com as mãos, derramando farofa em cima de si mesmo e no chão. A intenção do presidente era se mostrar um cara simples, do “povão”, e assim tentar reduzir esta rejeição.
O tiro saiu pela culatra. Compartilhado por Fabio Faria, o vídeo rendeu ao presidente a tag #Bolsoporco no twitter e acabou excluído pelo ministro das Comunicações, mas confirmou a impressão geral de que, para Bolsonaro, os pobres são iguais a ele, que não sabe se comportar à mesa. Isso tem nome: preconceito de classe.
Não é a primeira vez que o Sujismundo do Planalto tenta, à Janio Quadros –famoso por colocar talco sobre os ombros para fingir que era caspa–, encenar a imagem de “homem do povo” utilizando imagens em que se alimenta como um animal, com perdão aos animais. Ainda na campanha eleitoral, o então candidato do PSL divulgou uma fotografia onde comia pão com leite condensado sem utilizar prato, com migalhas e líquido espalhados sobre a mesa.
Foto: divulgação |
Em maio do ano passado, no dia em que o Brasil ultrapassava a triste barreira dos 10 mil mortos pelo coronavírus, Bolsonaro saiu para andar de jet ski no lago Paranoá como se nada estivesse acontecendo e apareceu comendo cachorro-quente numa barraquinha de rua da capital de boca aberta, com restos de mastigação à vista. Aliás, seu médico já recomendou que aprendesse a mastigar direito para não ser internado novamente com obstrução intestinal. Pelo visto o conselho não surtiu efeito.
Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo |
O presidente age como se ser humilde fosse sinônimo de ter maus modos. Não, comer com educação se aprende em casa, não tem nada a ver com classe social, e a prova está aí: até mesmo políticos profissionais, acostumados a se fartar em lautas refeições à custa do povo como Bolsonaro, não sabem o que é usar garfo e faca.
Um pobre olhará Bolsonaro comendo frango e terá a mesma reação que qualquer cidadão educado, independente de classe social: quem come assim é porco, não “povão”. Transmitir valores aos filhos não é exclusivo dos mais abastados –os Bolsonaro que o digam
Uma pessoa pobre olhará para o vídeo do presidente comendo galinha e terá a mesma reação que qualquer outro cidadão bem educado, independentemente da classe de origem: quem come assim é porco e não “povão”. Ser capaz de transmitir valores aos filhos não é exclusividade das classes mais abastadas –os Bolsonaro que o digam.
Tudo indica que a “estratégia” de mostrar Bolsonaro derramando farofa em si mesmo partiu do filho Carlos, que acompanhava de perto a demonstração pública de falta de educação do dignatário. A operação de marketing ficou evidente e caiu por terra quando o próprio Bolsonaro traiu a farsa ao olhar de soslaio para a câmera.
O que o presidente conseguiu foi, mais uma vez, se esmerar em ser um péssimo exemplo para as crianças do país. Como se não bastassem os palavrões que profere e a falta de cuidados básicos contra o coronavírus, sem usar máscara e apertando mãos na multidão sem higienizá-las antes, a mensagem que transmitiu foi a de mau comportamento, de sujeira, falta de urbanidade. O mau exemplo vem de cima.
A reação negativa das redes à mais recente porquice presidencial demonstra que o “povão” se sente naturalmente representado por um ex-operário nordestino de origem humilde, mas não por um presidente sem modos e sem compostura. Pelo contrário. Bolsonaro esperava que os mais pobres o enxergassem como um deles ao comer frango espalhando farofa por toda parte. A única coisa que conseguiu foi ver a si próprio no espelho: um homem de meia idade que não sabe nem comer farofa sem fazer sujeira, quanto mais governar.
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