Ninguém defende mais ninguém, porque a vida precisa se reorganizar e seguir em frente na direita. Moraes sabe que pode mandar prender quem já vem pedindo para ser preso.

Moisés Mendes
blogdomoisesmendes.com.br
4–5 minutos



Até uma certa esquerda mais assustada contribuiu para que levassem a sério uma ameaça. Se prendessem figuras consideradas intocáveis do bolsonarismo, os tios saltariam do zap para as ruas e deflagariam protestos e ações violentas.

Diziam que poderiam prender manés e patriotas do 8 de janeiro, políticos e coronéis, mas não um general. Jamais um Braga Netto. De forma alguma um filho de Bolsonaro. Nunca o pai deles.

Para agregar agravantes à ameaça, contavam com o clima criado pela eleição de Trump. Alexandre de Moraes estaria sob o bafo do fascista americano e ninguém faria movimentos bruscos, porque Trump poderia agir.

Já se sabe que é tudo bobagem. Que não aconteceu nada até agora. E já teve prisão de deputado, de delegado da Polícia Federal, de coronel e de generais. A reação mais forte e mais gritada contra a prisão de Braga Netto partiu de Silas Malafaia.

Mas Malafaia só é ouvido na sua igreja ou em cima de um trio elétrico na Avenida Paulista. Malafaia não tem poder político para acionar fúrias incontroláveis. Não tem voto e perdeu o respeito da extrema direita raiz. Tem fiéis da base bolsonarista, mas hoje isso conta pouco ou quase nada.

Podem fechar o cerco em torno de chefes golpistas civis e fardados, de muambeiros e de nazistas chinelões que fazem gestos com os dedos. Podem asfixiar os grandes empresários financiadores do golpe, e não só os do dinheirinho miúdo, que não acontecerá nada.

Não há força para levante algum. Os tios do zap sabem que não podem contar mais com os militares, com a Polícia Rodoviária Federal e com as PMs. Não têm lideranças nem quadros sequer para uma motociata. Não têm nada que possa segurar uma tentativa de incendiar o país.

Podem gritar no zap e nas redes sociais, mas não podem mais nada além disso. Se Alexandre de Moraes tivesse motivos e argumentos para decretar prisões preventivas em massa, não aconteceria nada.

O único desafio seria arranjar celas especiais para todos eles, com ar-condicionado e TV a cabo. Claro que não há e dificilmente haverá motivo para um grande número de prisões preventivas. Mas, se houvesse, todos poderiam ser enjaulados ao mesmo tempo.

Não aconteceria nada além do berreiro de Malafaia e de alguns que têm mandato e tribuna, mas não são ouvidos nem pelos seus. E o resto continuaria miando baixo e pedindo que o estado democrático de direito seja respeitado. É esse o cenário hoje.

O golpismo baixou a crista e foi subjugado pela própria incapacidade de reação. Perdeu retórica e grito de guerra por ter ficado sem a bandeira da anistia. E percebeu que os líderes políticos de direita, dos militares, dos jornalões e do empresariado estão cansados de guerra e já entregaram as armas.

Querem se livrar de Bolsonaro, de Braga Netto, de Augusto Heleno, dos grandes financiadores do fascismo e da turma do escalão intermediário.

Ninguém defende mais ninguém, porque a vida precisa se reorganizar e seguir em frente na direita. Moraes sabe que pode mandar prender quem já vem pedindo para ser preso.


Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas 'Todos querem ser Mujica' (Editora Diadorim)



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