Passado o efeito de choque causado pelas declarações do presidente americano, Donald Trump, feitas na noite de terça-feira (4) durante sua entrevista coletiva com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a quem recebeu na Casa Branca, as reações não tardaram a chegar nesta quarta-feira (5) vindas da Europa e do Oriente Médio.

Por: RFI
rfi.fr
6–8 minutos


O presidente americano Donald Trump e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, chegam no Salão Leste da Casa Branca em Washington para realizar uma coletiva de imprensa, em 4 de fevereiro de 2025. AFP - ANDREW CABALLERO-REYNOLDS
 O presidente americano Donald Trump e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, chegam no Salão Leste da Casa Branca em Washington para realizar uma coletiva de imprensa, em 4 de fevereiro de 2025. AFP - ANDREW CABALLERO-REYNOLDS


O futuro de Gaza está em "um estado palestino" e não no controle de "um terceiro país", disse o Ministério das Relações Exteriores francês na quarta-feira (5), poucas horas depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dizer que queria assumir o "controle" do território palestino.

"O futuro de Gaza deve ser visto não na perspectiva do controle por um terceiro Estado, mas dentro da estrutura de um futuro Estado Palestino, amparado pela Autoridade Palestina", declarou a diplomacia francesa em um comunicado à imprensa, reiterando a oposição da França a "qualquer deslocamento forçado da população palestina de Gaza".

A porta-voz do governo francês, Sophie Primas, disse que as afirmações de Donald Trump são perigosas para a estabilidade e o processo de paz na região.

"A França se opõe totalmente à movimentação de populações", explicou ela. "Continuamos com nossa política, que é: nenhum deslocamento de populações, a busca por um cessar-fogo temporário em direção a um processo de paz e uma solução de dois Estados" para Israel e Palestina, acrescentou.

O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, que está em visita a Kiev, também reagiu nesta quarta-feira. “Os palestinos devem poder viver e prosperar em Gaza e na Cisjordânia”, afirmou.

Em entrevista a rádios de Minas Gerais na manhã desta quarta-feira, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva também reagiu. "O que aconteceu em Gaza foi um genocídio, e eu sinceramente não sei se os Estados Unidos, que fazem parte de tudo isso, seriam o país para tentar cuidar de Gaza. Quem tem que cuidar de Gaza são os palestinos", disse Lula. "O que eles precisam é ter uma reparação de tudo aquilo que foi destruído, para que possam reconstruir suas casas, hospitais, escolas, e viver dignamente com respeito", afirmou o chefe de Estado, voltando a defender a criação de um Estado palestino como o Estado de Israel e uma política de "convivência harmônica".

O presidente americano disse na terça-feira, após encontro com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, que pretendia transformar a Faixa de Gaza em uma Riviera francesa no Oriente Médio.

Trump fez uma série de polêmicas declarações sobre o enclave palestino, como seu plano de controlar a Faixa de Gaza. O premiê israelense saudou o projeto, e afirmou que Trump é "o melhor amigo que Israel já teve na Casa Branca".

Declarações surpreenderam Netanyahu

De acordo com a imprensa israelense, nem mesmo Netanyahu esperava pelas declarações de Trump. Fotos do primeiro-ministro israelense maravilhado pelos acontecimentos estampam as primeiras páginas dos jornais desta quarta-feira, acompanhadas por comentários que repercutem as declarações de Trump: “O Hamas não terá mais poder político, e acima de tudo, os palestinos não têm escolha, eles terão que deixar a Faixa de Gaza”.

A imprensa israelense repercute também sobre outro assunto importante: “O Irã não terá a bomba atômica”, afirmam. Para os comentaristas políticos israelenses, Benjamin Netanyahu acolheu bem o plano de Trump. “É uma ideia diferente", teria dito com certa reserva.

Mas, sobretudo, a imprensa enfatiza que a transferência de moradores de Gaza não é nenhuma novidade. Os supremacistas brancos Ben Gvir e Smotrich vêm propondo a ideia há meses.

Para Michael Oren, ex-embaixador israelense nos Estados Unidos, a reunião provou uma coisa ao mundo, “Israel não está sozinho”.

Segundo o diário de oposição Haaretz, o primeiro-ministro israelense está preso entre a pressão americana e a de sua extrema direita, e o que ele está tentando fazer agora é simplesmente ganhar tempo.

Indignação no Oriente Médio

O plano do presidente americano suscitou uma onda de reações indignadas no Oriente Médio.

O Hamas acusou o presidente americano de “colocar lenha na fogueira”, afirmando, em um comunicado, que as declarações do chefe de Estado “não contribuem para a estabilidade da região”. O movimento palestino chamou de "racistas" as declarações de Trump e criticou o alinhamento do presidente americano com a extrema direita israelense.

O presidente palestino Mahmoud Abbas rejeitou "com firmeza" a ocupação planejada da Faixa de Gaza pelos Estados Unidos e seus repetidos apelos para uma transferência forçada dos palestinos aos países vizinhos.

A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) rejeitou qualquer plano para transferir "o povo palestino de sua terra natal". “Aqui nascemos, aqui vivemos e aqui permaneceremos", disse Hussein Sheikh, secretário-geral da OLP, em uma mensagem em sua conta X.

O Egito faz um apelo à reconstrução sem a saída dos civis palestinos.

Para a Turquia e a Autoridade Palestina, o projeto de Trump é inaceitável. Já a Arábia Saudita rejeitou a possibilidade de normalização de suas relações diplomáticas com Israel sem que haja esforços para a criação de um Estado Palestino.

(RFI e AFP)



Comentário(s)

-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;

Postagem Anterior Próxima Postagem

ads

ads