Duas toneladas de camarão, 109 potes de caviar, 330 kg de salmão em posta, 240 caixas de carpaccio de salmão, 3751 garrafas de vinhos importados e nacionais, 7200 latas de cerveja, 30 garrafas de uísque, 23 de tequila, 35 de vodca, 360 de espumante, entre outros produtos. Reportagem de Leandro Prazeres, do UOL, desta quarta (13), mostra que o Comando Militar do Leste realiza uma licitação estimada inicialmente em R$ 6,5 milhões que prevê a aquisição de mercadorias de luxo.
Segundo o Exército, isso é para abastecer hotéis do Exército no Rio de Janeiro e em Petrópolis (RJ) e e será vendido aos hóspedes. Ou seja, a corporação promete que – se tudo der certo, nada se estragar ou sumir no meio do caminho – o valor gasto com a licitação será coberto pelas vendas.
Essas unidades são frequentadas por militares em missão ou não, dependentes (desde que acompanhados), servidores civis das Forças Armadas e civis com autorização prévia. E também hospedam eventos e encontros.
Não é a primeira vez, nem o primeiro governo em que isso acontece. Aliás, em 2016, um outro edital também licitou os mesmos produtos, mas em um volume de 10% a 20% menor. Mas, neste momento, vivemos uma pesada crise econômica, com mais de 13 milhões de desempregados e 4,6 milhões de pessoas em desalento, que desistiram de procurar emprego simplesmente por deixarem de acreditar nessa possibilidade.
Para conseguir entregar o desconto de 46 centavos por litro de diesel prometido aos caminhoneiros em greve, o governo Michel Temer anunciou o corte de mais de R$ 1,2 bilhão de previsões de gastos públicos que estavam pendentes de recursos, além do fim de alguns subsídios, a taxação de indústrias e a utilização da reserva orçamentária.
No último dia 30 de maio, foi assinada a Medida Provisória 839, publicada no Diário Oficial da União. Ela traz 35 páginas de cortes, muitos deles atingindo a dignidade do brasileiro mais pobre. Veja, abaixo, alguns deles que são menores que o montante de camarão, caviar e uísque encomendado para os hóspedes do Exército:
– Promoção dos Direitos da Juventude: Perdeu R$ 425 mil
– Políticas para as Mulheres – Promoção da Igualdade e Enfrentamento à Violência: Perdeu R$ 661,6 mil
– Assistência Técnica e Extensão Rural para Agricultura Familiar: Perdeu R$ 5,4 milhões
– Promoção da Educação do Campo: Perdeu R$ 1,8 milhão
– Organização da Estrutura Fundiária: Perdeu R$ 5,64 milhões
– Desenvolvimento de Assentamentos Rurais: Perdeu R$ 3,21 milhões
– Apoio ao Desenvolvimento de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono: Perdeu R$ 31,1 mil
– Apoio ao Desenvolvimento e Controle da Agricultura Orgânica: Perdeu R$ 87,5 mil
– Fomento a Projetos de Implantação, Recuperação e Modernização da Infraestrutura de Pesquisa das Instituições Públicas de Ciência e Tecnologia: Perdeu R$ 1,9 milhão
– Policiamento Ostensivo nas Rodovias e Estradas Federais: Perdeu R$ 1,53 milhão
– Demarcação e Fiscalização de Terras Indígenas e Proteção dos Povos Indígenas Isolados: Perdeu R$ 625,3 mil
– Política Pública sobre Drogas: Perdeu R$ 462,3 mil
– Redes de Cuidados e Reinserção Social de Pessoas e Famílias que Têm Problemas com Álcool e Outras Drogas: Perdeu R$ 1,13 milhão
– Saneamento Básico: Perdeu R$ 6,2 milhões
– Implementação da Segurança Alimentar e Nutricional da Saúde: Perdeu R$ 2 milhões
– Fiscalização de Obrigações Trabalhistas e Inspeção em Segurança e Saúde no Trabalho: R$ 1,89 milhões
– Manutenção, Modernização e Ampliação da Rede de Atendimento do Programa do Seguro-Desemprego no Âmbito do Sistema Nacional de Emprego (Sine): Perdeu R$ 853 mil
– Identificação da População por meio da Carteira de Trabalho e Previdência Social: Perdeu R$ 947,9 mil
– Combate à Mudança Climática: Perdeu R$ 445 mil
– Controle e Fiscalização Ambiental: Perdeu R$ 1,2 milhão
– Apoio à Criação, Gestão e Implementação das Unidades de Conservação Federais: Perdeu R$ 2,9 milhões
– Desenvolvimento de Atividades e Apoio a Projetos de Esporte, Educação, Lazer, Inclusão Social e Legado Social: Perdeu R$ 2,41 milhões
– Apoio a Obras Preventivas de Desastres: Perdeu R$ 1,94 milhão
– Aperfeiçoamento, modernização e expansão dos Sistemas do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres: Perdeu R$ 628 mil
– Implantação de Obras e Equipamentos para Oferta de Água: Perdeu R$ 972,9 mil
– Revitalização da bacia hidrográfica do rio São Francisco: Perdeu R$ 1,1 milhão
– Apoio a Sistemas de Drenagem Urbana Sustentável e de Manejo de Águas Pluviais em Municípios
Críticos sujeitos a eventos recorrentes de inundações, enxurradas e alagamentos: Perdeu R$ 434 mil
Há cortes específicos do Sistema Único de Saúde (SUS), que foi amputado em mais de R$ 142 milhões, que também poderiam entrar aqui.
Em tempo: Isso deve expandir os horizontes de quem acha que a esquerda é caviar.
Blog do Sakamoto