O advogado Juan Grabois publicou, hoje, no Facebook, uma carta aberta ao ex-presidente Lula com a história -e as versões – de sua frustrada tentativa de visita a ele e o Rosário que a ele levou. É evidente a qualquer um que, se não houve aprovação, certamente não houve objeção papal a que o seu consultor revelasse não apenas que o serviço de notícias do Vaticano no Brasil expressou-se com distorções sobre a condição de Grabois e, sobretudo, revelando que a benção do Papa ao ícone oferecido a Lula foi pessoalmente abençoado por Francisco sabendo a quem seria entregue.



Leia o texto e veja o constrangimento a que o ódio político, até mesmo dentro de uma instituição que deveria rejeitá-lo por princípio vem sendo estimulado aqui.

Querido Lula,
Ontem, eu saí do Brasil muito angustiado. Como sabes, impediram-me de te visitar de forma injustificada, arbitrária e mal-educada. Depois, visitei os meus irmãos e irmãs provadores, carrinheiros, camponeses, favelados, professores, servidores públicos, operários e integrantes de diversas pastorais. Pude sentir a dor do seu povo, partilhar a sua impotência perante a injustiça, a sua revolta perante a perseguição do seu máximo dirigente. Notei também a enorme deterioração institucional, social e política que o Brasil sofre por causa da ambição de poucos que concentram o poder e impedem que as diferenças se apaziguamento nos quadros da democracia.
O drink mais amargo, porém, me esperava no aeroporto de Curitiba. Foi aí que soube que estavas a ser atacado nos meios de comunicação social e redes sociais. Dizem que menti sobre o Rosário enviado pelo Papa Francisco. Acontece que tu, preso e incomunicável, também mentem! Com espanto vi que os seus inquisidores indicavam que a fonte da sua calúnia era o próprio Vaticano. Maior foi a minha surpresa quando confirme que numa página da internet chamada Vatican News tinham publicado um texto em português agressivo, repleto de imprecisões e erros de redação. A comunicação desta página não pode ser considerada oficial, mas, com efeito, trata-se de um [correspondente] local dependente do secretariado de comunicação do Vaticano. Enquanto lia, não podia sair do meu espanto. Evidentemente, um editor desse site, sabe Deus com que intenção ou a pedido de quem, quis causar um tumulto e conseguiu. Quando pude reclamar com os superiores, a nota foi substituída por uma adequada, mas o dano já estava feito. Infelizmente, os meios que espalharam até o paroxismo removida do site e a suposta desmentida alegria não visualizaram a nova nota com a informação correta. Será que vivemos na era da pós-verdade.
Nunca revelei o conteúdo de um encontro com o Papa Francisco porque sou leal, o respeito e admiro muito. Além disso, sei que o seu apoio aos movimentos sociais e aos pobres lhe traz mais do que uma dor de cabeça. Como sabe, ele também sofre o ataque sistemático dos fariseus e herodianos dos nossos tempos. No entanto, tendo em conta as circunstâncias, sinto-me na obrigação de te contar como foram as coisas. Em meados de maio estive no Vaticano para visitar o Francisco, que me honra com uma amizade que não mereço, ama a pátria grande e – como ele mesmo indicou – está preocupado com a situação actual. Como sabe, é muito claro e frontal, não precisa de porta-vozes e eu nunca quis ser. Sofro muito quando a mídia me coloca nesse lugar. Eu apenas tento ajudar no diálogo com os movimentos sociais, algo que tenho feito desde que nos conhecemos em Buenos Aires, há mais de dez anos, lutando por uma sociedade sem escravos nem excluídos. Neste momento, colaboro com o dicastério para a promoção do desenvolvimento humano integral que preside o cardeal Peter Turkson com quem organizámos os três encontros mundiais de movimentos populares e outras atividades para promover o acesso à terra, o teto e o trabalho como direitos essenciais.

Por esses dias de maio, meus amigos dos movimentos populares do Brasil me ofereceram a possibilidade de te visitar. Fiquei muito satisfeito porque admiro o que fizeste como presidente pelos mais pobres e tenho a certeza de que és alvo de uma perseguição política, tal como Nelson Mandela e tantos outros dirigentes políticos na história recente.

Aproveitei, então, aquela visita ao Vaticano para conversar com o papa sobre a situação e pedir-lhe um Rosário abençoado para te levar a ti. Assim foi. É incrível que um gesto tão simples de solidariedade e proximidade do papa, um objeto que serve para rezar, gere tantos problemas, mas não é a primeira vez e Vatican News é responsável por ter permitido que se publique essa nota tão inapropriada e falta de profissionalismo. O seu responsável pediu-me perdão e perdoo-lhe, porque todos podemos cometer erros. Mas também sei que houve danos graves.
Também quero esclarecer que, quando me negaram ver-te, pedi aos teus colaboradores que te levassem o Rosário, expondo expressamente que vinha da parte do papa com a sua bênção. Por esse motivo, o que eles afirmaram na sua conta do facebook – erroneamente denunciada como fakenews e ameaçada com a censura – é simplesmente o que eu lhes disse: A verdade. Entrego esta carta aos seus colaboradores com a autorização expressa de que a postem se lhes serve para amenizar o dano causado, embora temo que aqueles que odeiam esse operário que tirou da fome a quarenta milhões de excluídos e colocou de pé a América Latina em frente aos seus colaboradores. Os poderes globais não vão dizer a verdade.
Te peço perdão pelo que aconteceu e te deixo um abraço fraterno, Latino-Americano e solidário.
Rezo pela tua liberdade, o teu povo e a nossa pátria grande.
Juan Grabois


TIJOLAÇO

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