Imaginem a repercussão se o ex-presidente orientasse a direção petista a publicar nas redes declarações suas diariamente



Ricardo Stuckert //À espera de um comando

por Celso Marcondes*

“O PT está perdendo espaço na mídia com o Lula preso e fora dos programas políticos”. Quem dizia isso na semana passada num café lá em casa era minha sobrinha petista. Daquelas que coloca bandeirinha vermelha na página do Face.




Ela estava preocupada. Contou que tinha adorado o Boulos no “Roda Viva”. E tinha visto o Ciro na Band, a Manuela e o Alckmin na sabatina da UOL/SBT. “Até um pouco do Bolsonaro na Jovem Pan eu vi, imagina”. E concluiu olhando para mim: “Minha mãe acha que o partido precisa definir logo quem vai substituí-lo, o tempo está correndo ...”.

Meu vizinho, eleitor não-declarado do Aécio, colocou lenha: “É, a campanha já começou, vocês estão malucos em insistir com o Lula”.

O telefone tocou, deixei os jovens conversando. Quando voltei à cozinha o assunto era outro.

No almoço de domingo, a sobrinha retomou o tema. Entre uma garfada e outra de lasanha e as mais variadas avaliações sobre a mobilização dos caminhoneiros, ela perguntou: “Vocês viram? Apuraram que todo o movimento foi articulado por grupos no Whatsapp, li na BBC Brasil. Coisa inédita aqui, por isso o governo teve ainda mais dificuldades de encontrar lideranças”.

Lembrei que o Nizan Guanaes tinha escrito algo semelhante na Folha. Até que ela emendou: “Agora não estou mais preocupada como antes, tio. Já pensou como pode ser o Whatsapp do Lula, mesmo na prisão?”




Meu cunhado tucano entrou na conversa: “Mas como ele vai usar celular na prisão, menina?”.

A resposta veio logo: “Ora, ele escreve um bilhete e entrega para o advogado que o visita todos os dias. O advogado dá pra Gleisi. Ela passa para o assessor de imprensa. Ele coloca no Whats: “Lula reafirma: o PT registrará sua candidatura dia 15 de agosto e vai manter até o fim”.

O cunhado replicou: “Mas todo mundo sabe que ele vai ser impugnado pela Justiça, estão perdendo tempo”.

Ela respondeu na lata: “Se ele for de fato impugnado, você sabe que nada está definido até aqui, ele pode ser eleito até estando preso.  Mas se conseguirem tirá-lo da disputa, ele escreve outro bilhete, tipo ... “injustiçado e impedido de disputar as eleições, peço a todos que me apoiam a votar no.... não importa quem”.

No mesmo dia eu monto um grupo e distribuo essa mensagem. E ela vai se multiplicando, como fizeram os caminhoneiros. Sabe quantos filiados tem o PT? O homem continua em primeiro em todas as pesquisas e elas dizem que boa parte dos seus eleitores votaria em alguém indicado por ele”.

 Meu cunhado largou o celular e pediu um copo d’água.

* Jornalista, ex-diretor do Instituto Lula


CartaCapital


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