Morador da TI Arariboia é assassinado a facadas em Amarante. Autoridades policiais e entidades indigenistas divergem sobre identidade e idade da vítima. Funai é criticada por afirmar que foi descartado crime de ódio.
ONGs vêm denunciando a escalada da violência em terras indígenas no Brasil
Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o corpo de Erisvan Soares Guajajara, de 15 anos, foi encontrado em um campo de futebol localizado no município de Amarante, no Maranhão. Ele foi assassinado a golpes de faca, e ainda não há suspeitos pelo crime.
O Cimi afirma que Erisvan deixou a Terra Indígena Arariboia, onde mora, há cerca de duas semanas para uma viagem com o pai à cidade maranhense, onde eles comprariam mantimentos e roupas. "A viagem acabou de forma trágica quando o corpo do jovem indígena foi encontrado esquartejado", escreveu o conselho em nota divulgada em seu site.
A Polícia Militar informou à imprensa local que o assassinato ocorreu durante uma festa na noite de quinta-feira no bairro Vila Industrial. Ao lado do corpo dele foi encontrado o de outra vítima, Roberto do Nascimento Silva, um não indígena.
A Polícia Civil não acredita que a morte de Erisvan tenha relação com os assassinatos recentes de indígenas Guajajaras, e disse que a suspeita é que "a situação tenha se originado de uma briga entre ele e o outro rapaz", segundo o jornal O Globo.
Citado pelo Cimi, o irmão de Erisvan, Luiz Carlos Guajajara, disse que o jovem "era um menino tranquilo, como qualquer outro menino da idade dele". "Vivia na aldeia. Ia para a cidade uma vez ou outra", declarou.
As informações sobre o crime, contudo, estão bastante desencontradas. A Polícia Militar e a Funai, por sua vez, identificaram a vítima como Dorivan Soares Guajajara, de 28 anos, conhecido como Cabeludo.
Em nota publicada pela imprensa brasileira, a Funai confirma que o crime ocorreu em uma festa na Vila Industrial, em Amarante, que a vítima morava na TI Arariboia e que seu corpo foi encontrado em companhia do não indígena Roberto do Nascimento Silva, assassinado a golpes de faca na mesma festa. Mas não menciona Erisvan.
A fundação acrescenta ainda que, "segundo a polícia, estão descartadas todas as motivações de crime de ódio, disputa por madeira ou por terras", e diz estar acompanhando as investigações.
A Polícia Militar, citada pelo portal de notícias G1, afirma ainda que o crime teria sido motivado pela suspeita de envolvimento de Dorivan com o tráfico de drogas.
Gilderlan Rodrigues, coordenador do Cimi no Maranhão, criticou a postura da polícia e da Funai, acusando-os de querer antecipar o resultado das investigações sobre "um crime com requintes de crueldade". Para ele, tal atitude é "como matar mais uma vez o indígena".
Rodrigues também criticou o trecho da nota da Funai que descarta motivações de crime de ódio. "É lamentável porque parece uma isenção, como se o órgão não tivesse a ver com o fato. Há uma sequência de violência afligindo o povo Guajajara, e a Funai deveria olhar para isso."
O líder indígena Paulo Paulino Guajajara foi assassinado em novembro
Eles saíam de uma reunião entre caciques e a empresa Eletronorte quando foram atingidos por disparos que, segundo relatos de um indígena sobrevivente, vieram de um veículo branco, às margens da rodovia BR-226, no município de Jenipapo dos Vieiras, entre as aldeias Boa Vista e El Betel, na Terra Indígena Cana Brava. A Polícia Federal investiga o caso.
No início de novembro, o líder Paulo Paulino Guajajara, integrante de um grupo de agentes florestais autodenominados "guardiões da floresta", foi assassinado também na Terra Indígena Arariboia, a 100 quilômetros do município de Amarante, enquanto caçava.
A Polícia Federal também investiga a morte, que teria sido motivada por uma disputa territorial com madeireiros, que exploram a região de forma ilegal.
A violência crescente contra indígenas no Maranhão levou o ministro da Justiça, Sergio Moro, a determinar neste mês o envio de agentes da Força Nacional à região, a fim de garantir a segurança de servidores da Funai e de indígenas. A medida não inclui a TI Arariboia.
DW



Postar um comentário
-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;