Coautores do livro “Sérgio Mamberti: Senhor do meu tempo”, Sérgio Mamberti e Dirceu Alves Jr participaram de evento na Ponte


Comemorando o lançamento do livro de memórias Sergio Mamberti: Senhor do Meu Tempo, ator falou sobre vida, carreira, militância e sonhos com membros do Tamo Junto, programa de apoio dos leitores da Ponte

Sérgio Mamberti tem uma história extensa: é ator, diretor, produtor, militante político, já foi empresário do ramo da gastronomia. Além disso, em seus 82 anos de vida, viveu momentos importantes da história do país como a Segunda Guerra, a ditadura militar e a redemocratização, tendo convivido com personalidades como Pagu, Luiz Carlos Prestes, Paulo Autran, Beatriz Segall, Gilberto Gil, Rita Lee, Fernanda Montenegro e muitos outros. Além de tudo isso, teve dois grandes amores, filhos e netos.

A vida e carreira do artista foram temas de um bate-papo exclusivo para os membros de Tamo Junto, comunidade de apoiadores da Ponte Jornalismo. A conversa aconteceu na noite de 22 de junho e teve a presença de Sergio Mamberti e do jornalista Dirceu Alves Jr, a dupla assina a autoria de Sergio Mamberti: Senhor do Meu Tempo, lançado esse ano pela Sesc Edições.

“O que eu acho ímpar na vida do Sérgio é que ele viveu muita coisa”, comentou o jornalista e coautor da obra. “Ele foi o personagem ou o espectador, ele esteve presente de alguma forma em grandes transformações da nossa sociedade nesses últimos 60 anos. O Sérgio viveu tudo”. Dirceu explicou que foram 4 meses de entrevistas com o ator em dois encontros semanais. Para ele, sua grande missão foi conseguir “interpretar o Sérgio como homem ao longo do livro”, que tem capítulos curtos para tornar a leitura mais fluida, mantendo, no entanto, “toda a essência” das conversas que os dois tiveram. “Legado maravilhoso para a nossa história”, definiu Daniela Gualassi, que acompanhou o evento ao vivo.


Ao longo da conversa com os membros do Tamo Junto, Sérgio refletiu sobre seus 60 anos de carreira, sobretudo sobre seus tempos no palco. Para ele, o teatro é a espinha dorsal de sua biografia. “O teatro e a vida estão muito próximos. O teatro é a arte do ator e a arte que mais se aproxima da vida”. Sérgio encara “ofício do ator como algo sagrado” e não dissociou sua carreira artística de sua militância política que o levou a trabalhar na campanha de Luiza Erundina para prefeitura de São Paulo em 1988 e nas campanhas presidenciais de Lula do final dos anos 80 até a que culminou em sua vitória em 2002. Durante 12 anos, ele atuou no Ministério da Cultura como secretário de Música e Artes Cênicas, secretário da Identidade e da Diversidade Cultural, presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes) e secretário de Políticas Culturais. “Saudades desse tempo”, comentou Guilherme Ghirardelli, membro do Tamo Junto.

Governo trágico

Durante a conversa, o ator classificou o atual governo como uma ditadura e fez comparações com o regime militar implantada em 1964. “A ditadura de 64 matou muitos sonhos, fui muito cruel, muito violenta. As pessoas que eram a favor da ditadura era um número muito menor do que os que aderiram a essa ditadura tão brega”. Ele lembra que as mortes por Covid-19, cuja responsabilidade é do descaso do atual governo, superaram as mortes durante a ditadura. “Quando se fala de genocídio aqui, a gente não está falando no sentido figurado. A gente está falando de 500 mil pessoas. A gente vê que eles perseveram mesmo depois de tudo isso, continuam agindo com a mesma irresponsabilidade. Esse governo que nós temos é trágico”. O lamento do artista foi ecoado por Naiara Frota, que acompanhou o evento: “Saudades de quando tínhamos um governo”.

Sergio define também a gestão cultural do país hoje como “trágica”. “É um momento muito difícil em que a cultura parece que foi, aparentemente, assassinada. Existe um complô contra a cultura”. No entanto, ele acredita que o trabalho de desmantelamento da cultura popular pelos atuais governantes é “obra inútil”, pois “ele está gravado na mente, no coração, na memória ativa de toda essa diversidade cultural. É impossível eles matarem esse sonho.”

Falando sobre o papel transformador da cultura, ele citou o programa infanto-juvenil Castelo Rá-Tim-Bum, que estreou em 1994 na TV Cultura e impactou toda uma geração de crianças. “É um universo que foi criado ali. Tudo você pode encontrar no Rá Tim Bum”, comentou o eterno Dr. Victor Stradivarius, personagem interpretado por Mamberti na produção. “Ficam as minhas lembranças de assistir com meus filhos todos os dias”, Maria Isabel Correia, do Tamo Junto, comentou.

No bate-papo, Sergio ainda contou diversas histórias sobre a como o programa atravessou fronteiras e impactou e ainda impacta diferentes gerações. “As transformações sociais se dão sempre através da arte e da cultura. Elas trazem para nós a possibilidade de sonhar mesmo em momentos em que tudo nos parece perdido”, disse em resposta a Fernanda Garcia, que perguntou sobre o papel da cultura no cotidiano das pessoas e na criação dos sonhos.

Sobre o evento

Por Marta Regina Maia, do Tamo Junto

Vivemos um momento difícil no Brasil, em que as disputas narrativas colocam em xeque a nossa própria história. Nesse sentido, precisamos, cada vez mais, de espaços de discussão e reflexão sobre tudo que nos afeta. Ao promover essa frutífera conversa, a Ponte Jornalismo nos ajuda a pensar um pouco mais sobre nossas vidas, nossas influências, nossos desejos.
Acompanhei com muito interesse a conversa com Sérgio Mamberti, um dos maiores atores do Brasil. Grande não só por sua produtiva atividade estética, mas também por sua firme posição em defesa de um projeto de país solidário e justo. Tive a oportunidade de relembrar um dos melhores programas infantis já produzido pela televisão, que foi o Castelo Rá-tim-bum. O eterno personagem interpretado pelo Mamberti, o Tio Victor, faz parte da vida de toda minha família, pois assistíamos juntos o programa. Como sempre digo, ao recordar, conseguimos, de alguma forma, re-viver, afinal é preciso celebrar a vida em todas as suas dimensões. Um grande salve para a Ponte Jornalismo. Que venham outros!

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