blogdomoisesmendes.com.br
4–6 minutos
Nem o estagiário do Banco Central acreditou na história de que Gabriel Galípolo teria dito que a moeda dos Brics poderia salvar o mundo da hegemonia exercida pelo dólar há décadas.
Mesmo assim, foi noticiado que a fake news sobre a fala improvável, disseminada pelas redes sociais, seria investigada pela Polícia Federal, por solicitação da Advocacia-Geral da União.
Não duvidem se espalharem que o Brasil pode adotar de novo o cruzeiro como nome da nossa moeda. Tudo pode ser dito sobre moedas, que sempre sofreram ataques especulativos. Mas agora, com as redes e suas mentiras, a extrema direita ressentida e as facções organizadas da Faria Lima, fica mais complicado.
O estagiário sabe que Galípolo não diria nada sobre moeda dos Brics nesse tom e nesse contexto, muito menos às vésperas de assumir o comando do Banco Central. Mas o mercado financeiro finge que aquilo é verdade e tenta tirar vantagem da confusão que abala os mais influenciáveis, distraídos e imbecis.
O que todos sabem, inclusive um primo do estagiário, é que chamaram Galípolo para aparecer ao lado de Lula e Haddad como tática de emergência. Para que transmitissem ao mercado financeiro que há confiança mútua e respeito.
Porque o mercado é litúrgico e cerimonioso, por ser composto de gente
de famílias finas. Esse mercado cheio de escrúpulos viu, dias antes do
vídeo de Lula com Galípolo e Haddad, uma outra foto, de Roberto Campos
Neto com Damares Alves e Michelle Bolsonaro.
Foi num jantar definido pelos jornalões como encontro de líderes do conservadorismo. Damares e Michelle seriam duas integrantes dessa turma de expoentes conservadores que defendem arcabouços e controle absoluto da inflação com juros altos.
O mercado, que cobra bons modos de Lula em relação a Galípolo e por
isso impôs que ambos se encontrassem, se diverte vendendo que os
encontros seriam equivalentes. A direita adora essas equivalências,
sempre em conluio com os seus colunistas de Folha, Globo e Estadão.
Para o mercado financeiro, o jantar de Campos Neto com Damares e Michelle é do jogo das convivências e vale tanto quanto o vídeo de Galípolo com Lula.
Consideram normal que, dias antes de deixar o cargo, o presidente do Banco Central tenha se encontrado com duas figuras que não expressam conservadorismo, mas ideias e ações da extrema direita.
O mercado que desafiou Lula a gravar uma prova de que não incomodará Galípolo, porque esse mercado exige retidão e decoro, é o mesmo que aplaude o encontro de Campos Neto com figuras do bolsonarismo decadente cercado por Alexandre de Moraes.
O presidente do BC foi ao encontro da gente dele, sem a menor preocupação com o impacto da reunião. Porque, como aconteceu com Sergio Moro, ele também pode arranjar emprego no bolsonarismo. A foto com Damares e Michelle é o custo a ser pago, mas é também ostentação, na falta de um Paulo Guedes.
E assim a vida segue, agora com o mercado de bucho cheio, porque Galípolo tem o compromisso de Lula de que não será incomodado. E Campos Neto pode, daqui a pouco, correr livre para os braços do pessoal que, como ele, veste a camisa da Seleção.
O estagiário, que presta atenção a tudo, sabe que essa semana outras fake news, nas quais a Faria Lima finge acreditar para causar alvoroço com o dólar e lograr incautos, serão investigadas pela Polícia Federal.
Não vão pegar ninguém, porque disseminador de fake news no mercado financeiro não é bobo que nem mané amador do 8 de janeiro crente de que seria protagonista de um golpe.
Ninguém quebra relógios antigos na Faria Lima. Eles tentam quebrar realidades, reputações, programas de governo e expectativas para os próximos anos. Eles precisam quebrar Lula.
Nesse mercado, a mentira dolarizada é coisa para profissionais de um Estado em que até o governo está sendo sequestrado pelas facções criminosas.
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. Foi colunista e editor especial de Zero Hora. Escreve também para os jornais Extra Classe, Jornalistas pela Democracia e Brasil 247. É autor do livro de crônicas 'Todos querem ser Mujica' (Editora Diadorim)
Postar um comentário
-Os comentários reproduzidos não refletem necessariamente a linha editorial do blog
-São impublicáveis acusações de carácter criminal, insultos, linguagem grosseira ou difamatória, violações da vida privada, incitações ao ódio ou à violência, ou que preconizem violações dos direitos humanos;
-São intoleráveis comentários racistas, xenófobos, sexistas, obscenos, homofóbicos, assim como comentários de tom extremista, violento ou de qualquer forma ofensivo em questões de etnia, nacionalidade, identidade, religião, filiação política ou partidária, clube, idade, género, preferências sexuais, incapacidade ou doença;
-É inaceitável conteúdo comercial, publicitário (Compre Bicicletas ZZZ), partidário ou propagandístico (Vota Partido XXX!);
-Os comentários não podem incluir moradas, endereços de e-mail ou números de telefone;
-Não são permitidos comentários repetidos, quer estes sejam escritos no mesmo artigo ou em artigos diferentes;
-Os comentários devem visar o tema do artigo em que são submetidos. Os comentários “fora de tópico” não serão publicados;