"Já tão te chamando de Willy Wonka do crime organizado"
por Jornalistas Livres
José Roberto Torero*
Diário, que momento difícil… Estou tão deprimido que me dá vontade de me encher de chocolate.
É que o assunto Flavio voltou à tona. Na verdade, está boiando na piscina.
Foram sei lá quantos mandados de busca, pegaram celulares, arrombaram a loja de chocolate do menino, um escarcéu.
Claro que demoraram mais de um ano e nesse tempo daria para apagar tudo. Mas tem coisa que não dá para apagar. Extrato de banco, por exemplo.
Bom, no fim da quarta-feira chamei o Flavinho aqui no Palácio da Alvorada. Ele chegou às 17h30 num carro oficial do Senado.
O garoto já veio choramingando.
– Pápi…
– Não tem pápi, nem mãmi. Você tem que fazer uma live e dizer que é tudo armação.
– Claro, pápi.
– Como é que você vai explicar que tira mais dinheiro da loja de chocolate do que o seu sócio?
– Vou dizer que eu levo mais cliente.
– Mas você nem aparece por lá.
– Vou dizer com um ar bem indignado, aí todo mundo acredita.
– E como é que você vai justificar o tanto de compras em dinheiro vivo na loja?
– Vou dizer que meus acusadores são uns energúmenos, porque isso é normal no comércio.
– Mas as entradas de dinheiro vivo eram nas mesmas datas do recolhimento feito pelo Queiroz. E entre 22 de novembro e 7 de dezembro de 2015, período de pagamento do 13º dos servidores da Alerj, as compras em dinheiro explodiram.
– Hum… Acho que vou dizer que os funcionários tiraram o dinheiro e foram na loja comprar chocolate.
– É melhor não falar nada, talkei?
– Talkei, pápi.
– Já tão te chamando de Willy Wonka do crime organizado.
-Poxa, não tem nada pra distrair o pessoal, pai? Cadê aquele escândalo no BNDES que você prometeu?
– A caixa preta estava vazia.
– E a surra que a Karol Eller levou?
– Parece que ela que começou a briga, estava armada e drogada.
– O Moro não pode dar um jeito?
– Desconfio que o sujeitinho está fazendo corpo mole. Adversário em 2022, sabe como é…
– Assim fica difícil. Tá me dando até uma depressão…
Aí ele tirou do bolso um chocolate, desembrulhou e mordeu.
– Quer um pedacinho, pápi?
Tirei o treco da mão dele e comi tudo de uma vez. Era daqueles com recheio de laranja.
*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.
@diariodobolso
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