A OMS considera um país envelhecido quando os idosos somam mais de 14% da população. AFP/Sébastien Bozon
Para saber como Portugal tem respondido aos desafios impostos pelo envelhecimento, uma delegação da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia esteve em Portugal esta semana para uma série de visitas técnicas. A visita foi realizada em parceria com a companhia francesa especialista em expedições técnicas em saúde, Dialog Health. A delegação brasileira era composta por dez médicos geriatras e duas terapeutas ocupacionais, que vieram de diferentes estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Rondônia. Alguns atuam no serviço público ou no setor privado; outros são ligados a universidades estaduais ou federais.
Correspondente da RFI em Lisboa
Nos quatro dias de visitas, a delegação brasileira foi a quatro cidades: Porto, Coimbra, Aveiro e Lisboa. Visitou projetos sociais, residência de longa permanência, apartamentos planejados para pessoas com 65 anos ou mais, instituição de apoio a idosos. Conheceram serviço de teleassistência, sistemas e aparelhos para telemedicina, um centro de pesquisa e desenvolvimento e dois consórcios: o Porto4Ageing, que é uma iniciativa da Universidade do Porto; e o Ageing@Coimbra, que tem a Universidade de Coimbra como membro fundador.
Consórcios, “a palava mágica”
Os dois consórcios, além das universidades e de centros de pesquisa, agregam diversos parceiros – governos regionais, instituições como a Santa Casa de Misericórdia e a Cáritas Diocesana, empresas, indústrias. Ou seja, consiste num trabalho colaborativo para a promoção de diferentes ações e projetos, todos voltados para o envelhecimento ativo e saudável. O professor titular do Departamento de Geriatria da Faculdade de Medicina da USP, Dr. Wilson Jacob Filho, integrante da delegação brasileira, demonstrou bastante entusiasmo com a iniciativa.
“Consórcios. Esta, para mim, é a palavra mágica, porque com os consórcios muitos grupos querem a mesma coisa. São bons músicos que se propõem tocar numa mesma orquestra. Isto é, no meu modo de entender, a principal ponte entre boas ideias e boas realizações”, sublinhou.
O Dr. Jacob Filho, que também é diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, falou que os médicos geriatras e terapeutas ocupacionais brasileiros voltam para o Brasil com várias ideias, que não dependem de equipamentos, de estruturas ou expertises excepcionais.
“Eu saio com dois fascínios: primeiro, do consórcio, da necessidade de fazer acordos bons; e o segundo é que o idoso invisível precisa ser visível. Ele não pode continuar oculto”.
Idoso invisível
O Dr. Wilson Jacob Filho se refere aos projetos executados por instituições como a Santa Casa e a Cáritas, por exemplo, que atuam no combate à solidão e ao isolamento dos idosos que têm pouco ou nenhum apoio da família. Há casos em que combinam tecnologia de monitoramento com a presença de voluntários que participam do apoio social aos idosos. Essas iniciativas têm adiado e até evitado a institucionalização.
Ao ser questionado se vai ser possível desenvolver, no Brasil, alguns projetos inspirados nas experiências portuguesas, o médico brasileiro afirmou que “só vai dar pra saber tentando. A impressão que tenho é que a necessidade ‘de’ será o nosso maior incentivador nesse sentido”.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera um país envelhecido quando os idosos somam mais de 14% da sua população. No Brasil, eles já representam 13,5%, de acordo com o IBGE. Isso quer dizer que o Brasil está envelhecendo, enquanto Portugal já envelheceu. O país é hoje o terceiro mais envelhecido da União Europeia (UE), só superado por Alemanha e Itália. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, 21,8% da população portuguesa são idosos. Daqui a 30 anos, o país estará no topo, com a maior porcentagem de pessoas com mais de 65 anos, segundo o Eurostat - Gabinete de Estatísticas da UE. Esse envelhecimento acelerado está associado ao aumento da expectativa de vida, às baixas taxas de natalidade e à emigração. Para termos uma ideia: por cada grupo de 100 jovens há 159 pessoas com mais de 65 anos. Isso quer dizer que o país viu crescer uma população que deixou de produzir e passou a apresentar necessidades novas em virtude do envelhecimento.
RFI - Linha Direta


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