O ex-presidente Lula. Foto: Ricardo StuckertLeonardo Miazzo |
Na terceira via, Felipe Nunes destaca oscilação positiva de Ciro, mas reforça: ‘Não vai crescer mais se não roubar votos de Lula e Bolsonaro’
CartaCapital
5-7 minutos
A mais recente rodada da pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira 9, indica uma estabilidade nas intenções de voto, expõe as dificuldades de Sergio Moro (Podemos) e reforça o desempenho “impressionante” de Lula (PT) nas projeções para o segundo turno. As avaliações são do cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest, responsável pelo levantamento, em entrevista a CartaCapital.
Na terceira via, Nunes destaca também a oscilação positiva de dois pontos anotada por Ciro Gomes (PDT) e a incapacidade de João Doria (PSDB) de alavancar sua candidatura.
Veja o principal cenário considerado pela Genial/Quaest para o primeiro turno:
- Lula (PT): 45%
- Jair Bolsonaro (PL): 23%
- Sergio Moro (Podemos): 7%
- Ciro Gomes (PDT): 7%
- João Doria (PSDB): 2%
- André Janones (Avante): 2%
- Simone Tebet (MDB): 1%
- Rodrigo Pacheco (PSD): 0%
- Luiz Felipe D’Ávila (Novo): 0%
- Branco/nulo/não vai votar: 8%
- Indecisos: 5%
Em um eventual segundo turno, Lula superaria qualquer adversário por uma diferença de pelo menos 20 pontos, de acordo com a pesquisa. Contra Bolsonaro, por 54% a 30%; contra Moro, por 52% a 28%; e contra Ciro, por 51% a 24%.
Leia os principais pontos da entrevista com Felipe Nunes:
CartaCapital: A pesquisa aponta a possibilidade de Lula vencer no primeiro turno. Mas é provável que isso aconteça?
Felipe Nunes: A pesquisa reforça uma estabilidade nas intenções de voto e na avaliação do governo. Moro e Ciro aparecem empatados em terceiro lugar, o que é uma novidade, porque a euforia em torno do Moro era muito grande quando ele apareceu candidato no Podemos.
O que o dado sugere é uma polarização entre Lula e Bolsonaro no segundo turno. Digo ‘sugere’ porque as análises que fazemos mostram que os dois eleitores são muito consolidados. Os eleitores de Lula e Bolsonaro são fiéis, mobilizados, engajados e já estão mais decididos.
Agora, a tendência é de que esse eleitor da terceira via migre para esses candidatos, e isso favoreceria, em um voto útil, um crescimento do Bolsonaro. Continuo achando que uma eleição no primeiro turno é improvável.
CC: Qual é o atual estágio da candidatura de Ciro Gomes?
FN: Todos os candidatos da terceira via, e isso cabe para o Ciro, hoje sofrem de um problema que é: as pessoas não acreditam que eles vão ganhar a eleição. E quando falta expectativa de vitória, o eleitor fica desanimado a manter sua opção de voto ali.
Isso é particularmente importante no caso do Ciro porque ele precisaria adquirir pra si boa parte desse eleitor que é do Lula hoje – o que é difícil, porque o voto no Lula está muito consolidado.
O que dá para dizer sobre os candidatos da terceira via e sobre o Ciro em particular é que estão tentando encontrar um caminho de posicionamento estratégico que lhes dê a possibilidade de roubar votos dos dois primeiros nomes. Eles não vão crescer mais se não roubarem votos de Lula e Bolsonaro. Do contrário, tem pouco mercado político para ser disputado.
A notícia boa para o Ciro é que ele oscilou positivamente dois pontos. Ou seja, toda essa mobilização dos reacts em relação ao Moro parece que deu resultados positivos.
CC: Ainda na terceira via, João Doria está mais perto de André Janones (Avante) que de Ciro e Moro. O que a pesquisa sugere sobre ele?
FN: Primeiro, é bom ressaltar que o Janones faz sua estreia nesta pesquisa e já estreia bem, empatado com o governador de São Paulo, um desempenho impressionante. No Doria, chama a atenção a incapacidade que ele tem até aqui de alavancar seu nome, mesmo já tendo um grau de conhecimento no País muito elevado.
Se a gente pensar que não é o desconhecimento que explica essa baixa intenção de voto, mas de fato uma alta rejeição, o que dá para dizer é que o Doria dificilmente consegue melhorar seu desempenho trabalhando com as mesmas variáveis com as quais trabalha hoje, que são a defesa da vacina em São Paulo, a gestão de São Paulo e por aí vai.
Não é por aí que ele vai conseguir alavancar a candidatura.
CC: E Bolsonaro? Há uma tendência de queda, estabilização ou crescimento?
FN: Bolsonaro, hoje, está no mesmo patamar em que o Lula esteve em 1994 e em 1998. Ou seja, em fevereiro de 1994 e em fevereiro de 1998 o Lula tinha mais ou menos 20% de intenção de votos. Ao longo da campanha, o Lula cresceu – embora o FHC tenha vencido eleição no primeiro turno, o Lula não perdeu de 7 a 1.
A tendência natural de qualquer incumbente é melhorar o seu desempenho no último ano de governo. Se isso vai acontecer, não dá para dizer, mas a tendência é de que todo governo melhore no último ano.
CC: Há meses Lula aparece com vantagem de pelo menos 20 pontos sobre os oponentes no segundo turno. Esse dado chama a atenção dos pesquisadores?
[Esse cenário] não muda mesmo. É uma estabilidade impressionante. A disputa entre Lula e Bolsonaro está no 50% a 30% há alguns meses. Isso só demonstra que as escolhas políticas que Bolsonaro fez ao longo do mandato repercutiram negativamente na sociedade, e isso, obviamente, tem consequências políticas e eleitorais.
O eleitor cristalizou a ideia de mudança e não de continuidade em relação a este governo especificamente. E aí, em um eventual segundo turno, o Lula consegue aglutinar muito mais forças políticas que o Bolsonaro.
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