Cidadãos africanos aguardam para entrar em trem na estação de Lviv, na Ucrânia, em 27 de fevereiro de 2022. AP - Bernat Armangue |
Nas redes sociais, multiplicam-se testemunhos de maus-tratos perpetrados por agentes de segurança ucranianos, impedindo africanos de embarcarem em trens ou ônibus em direção às fronteiras do país. A cor da pele também parece ser um pré-requisito para entrar na Polônia. As injustiças levaram a União Africana (UA) a reagir oficialmente na segunda-feira (1°).
Com informações de Nicolas Feldmann, enviado especial da RFI à Przemysl (Polônia)
5-6 minutos
Os tuítes de "Nze", nigeriano radicado em Kiev, também viralizaram na internet nos últimos dias. O jovem, que passou três dias esperando no frio até conseguir transporte em direção à Polônia, utiliza a plataforma para denunciar as discriminações das quais vêm sendo alvo na empreitada de fugir da Ucrânia.
"Eles nos insultaram em russo pensando que
não os compreendíamos, até um de nós colocou a câmera na cara deles e
disse para que eles repetissem. Aí eles diminuíram os insultos porque se
deram conta DE que a maioria de nós têm conhecimentos básicos das
línguas russa e ucraniana", diz um dos posts de "Nze".
Segundo o porta-voz da presidência nigeriana, Muhammadu Buhari, um grupo de estudantes do país foi impedido diversas vezes de entrar na Polônia. "Eles não tiveram outra escolha além de atravessar novamente toda a Ucrânia para chegar à fronteira com a Hungria", diz.
Um estudante congolês que mora na Ucrânia conversou com a RFI sob anonimato e contou que esperou um dia inteiro no frio para poder atravessar a fronteira, enquanto pessoas brancas não tiveram a mesma dificuldade. "Agora estou na Polônia, mas não foi fácil chegar aqui. Eu estava já dentro de um trem, quando alguém me segurou e me jogou para fora. Estamos vendo esse tipo de coisa acontecer todos os dias", diz.
O estudante congolês Eliezer contou à RFI que fez quatro tentativas até conseguir permanecer em um trem em direção à Polônia. "Agentes ucranianos nos tiram de dentro dos trens. Claro que sabemos que a prioridade são as mulheres e as crianças. Mas várias vezes eles deixam homens brancos passarem, enquanto nós somos recusados", afirma.
Repatriamento de 500 marfineses
Para
o governo da Costa do Marfim, o repatriamento de cerca de 500 cidadãos
que estavam na Ucrânia também se tornou um quebra-cabeças. O Ministério
das Relações Exteriores do país criou uma célula de crise em Abidjan e
outra EM sua embaixada na Alemanha. No entanto, o embaixador Philippe
Mangou resolveu viajar até a fronteira entre a Polônia e a Ucrânia para
ajudar nas operações.
Em entrevista à RFI, ele
relata a dificuldade dos marfineses na empreitada. "São situações
anormais. A Convenção de Viena diz que quando cidadãos de um país estão
em perigo por causa de uma guerra, é necessário acolhê-los. Espero que
as autoridades polonesas nos ouçam. Não é possível bloquear as pessoas, é
preciso deixá-las circular. Se permitem que os ucranianos atravessem as
fronteiras, é necessário deixar os africanos fazerem o mesmo", diz.
União Africana denuncia racismo
Em
um comunicado, a UA se diz "particularmente preocupada" com os cidadãos
impedidos de fugir da guerra. O presidente do Senegal, Macky Sall, que
dirige a organização, bem como o presidente da Comissão da União
Africana, Moussa Faki, lembram que "todas as pessoas podem cruzar as
fronteiras durante um conflito e deveriam se beneficiar dos mesmos
direitos qualquer que seja a sua nacionalidade ou sua identidade
racial".
A UA denuncia um "tratamento diferente e inaceitável",
"chocante" e "racista", que viola o direito internacional. Sall e Faki
fazem um apelo para que todos os países pratiquem a empatia e apoiem
todas as pessoas que tentam deixar a Ucrânia neste momento,
independentemente de suas origens ou cor de pele.
A embaixadora da
Polônia na Nigéria, Joanna Tarnawska, rebate as acusações, dizendo que
"todos estão recebendo um tratamento igualitário". Prova disso, segundo
ela, é a grande quantidade de cidadãos africanos acolhidos na Polônia
nos últimos dias.
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