Enquanto o país não cair na real que a gastança com juros é a principal causa da estagnação, não conseguirá virar o jogo


Luis Nassif
jornalggn.com.br
5–6 minutos



Com a pose típica das pessoas seguras de si, a ex-diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central, Fernanda Guardado, ostentando o reluzente cargo de Chefe da Pesquisa para a América Latina no BNP Paribas, declara para a Bloomberg: o Banco Central tem que aumentar a taxa Selic em dois pontos nos próximos 6 meses. Assim, taxativamente!

Qual a razão?

Segundo a Bloomberg News, a grande economista decretou:

“Os diretores deveriam começar com um aumento de 0,25 ponto percentual neste mês e poderiam seguir com ajustes de meio ponto nas reuniões de novembro e dezembro, levando a Selic para 12,25% em março. As perspectivas de gastos públicos pioraram, o mercado de trabalho está apertado e o crescimento está avançando, disse ela”.

Este é o grande Leviatã: o crescimento da economia, o que sempre foi o objetivo central das políticas econômicas.

“Para o Banco Central optar pela manutenção, ele teria que mostrar de uma forma muito enfática de onde está esperando que venha o desaquecimento da economia. Hoje está bastante difícil entender de onde viria um grande desaquecimento da economia se não for pelo lado da política monetária”.

O objetivo final é alcançar o “grande desaquecimento da economia”. Não é nem conter a inflação.

Esse nonsense domina o país há décadas. Os operadores de mercado dirão: que grande pensadora, que economista notável! Ela conseguiu decorar os bordões de mercado e repetir com ênfase.

E a mídia saudará a nova fonte que apareceu recitando velhas inverdades. Tratam como normal uma “ciência” que diz que a salvação da economia está na estagnação, no não crescimento, na manutenção de altas taxas de desemprego.

Aí, a taxa Selic elevada pressiona a dívida pública. Pressionando, aumenta a relação dívida/PIB. E o que dizem os gênios do mercado para os burraldos da mídia? Se está aumentando a relação dívida/PIB tem que aumentar as taxas de juros.

Está certo que o mercado alcançou tal poder de desestabilização que o governo tem que se curvar a uma tolice desse tamanho. Mas é hora de se abrir uma discussão pública nacional sobre as chamadas políticas de austeridade e sobre o sistema de “metas inflacionárias”, introduzido por Armínio Fraga e que condenou a economia brasileira à estagnação.

É batata! A economia começa a melhorar. Melhorando, haverá mais receita fiscal, mais possibilidade do governo investir em infraestrutura, em melhorar a saúde e a educação, as pesquisas tecnológicas. Aí, o que faz o mercado? Se está crescendo, significa que pode aumentar a inflação. Então, trata de aumentar os juros para ele, mercado, se apossar do crescimento da receita fiscal.

O governo não vai ousar abrir essa discussão por razões óbvias – a possibilidade da Faria Lima desestabilizar a economia. Mas há urgência na constituição de um grupo de economistas, das principais faculdades de Economia do país, discutindo de forma aberta a mudança desse modelo torto, fundado em taxas de juros altas e cortes draconianos de despesa.

Antes dessa maluquice, o governo dispunha de ferramentas para atacar pontualmente causas de inflação. Háaviaos estoques reguladores, para enfrentar quedas de safra. Há a possibilidade de uma política ativa nos mercados de câmbio e derivativos. No início dos anos 90, praticamente sem reservas cambiais, o Banco Central logrou tourear o mercado graças a uma mesa de operações dirigida por Emílio Garófalo – um dos muitos funcionários exemplares da história do Banco Central. O mercado de consumo estava aquecido? Havia muitas ferramentas para reduzir o financiamento, como aumento do compulsório, imposição de prazos máximos para financiamento, sem impacto sobre a dívida pública.

Enquanto o país não cair na real que a gastança com juros é a principal causa da estagnação brasileira, não conseguirá virar o jogo do crescimento e do combate ao extremismo – que se alimenta, justamente, da falta de gastança do governo em políticas fundamentais.


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