No Instagram, houve uma valorização estética e cultural do boné pela esquerda; no Facebook, a direita polarizou o debate, mostra pesquisa
jornalggn.com.br
GGN
Carla Castanho
5–6 minutos
Estratégia do boné pode representar a primeira ação certeira da nova Secom, diz Manchetômetro
No Instagram, houve uma valorização estética e cultural do boné pela esquerda; no Facebook, a direita polarizou o debate, mostra pesquisa
A recente “guerra dos bonés”, que dominou as redes sociais na última semana movimentando a opinião pública, pode representar a primeira ação certeira da nova Secretaria de Comunicação (SECOM). A análise é do Manchetômetro deste mês.
A polêmica teve início quando o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, apareceu na eleição da cúpula do Congresso, no último sábado, usando um boné com o slogan “O Brasil é dos Brasileiros”, uma iniciativa do novo ministro da SECOM, Sidônio Palmeira.
A estratégia buscava reforçar a soberania nacional e responder a grupos que exaltam Donald Trump e seu movimento extremista MAGA (Make America Great Again) – ilustrado em um boné vermelho – em meio às ameaças tarifárias impostas pelo presidente norte-americano.
Em resposta, bolsonaristas optaram pelo uso do boné verde e amarelo estampado com a frase “Comida barata novamente. Bolsonaro 2026”, em um aceno provocativo a Lula devido ao preço atual dos alimentos.
Segundo a pesquisa, no Instagram, plataforma majoritariamente associada à esquerda, “houve uma valorização estética e cultural do boné”. Já no Facebook, dominado pela direita, “o debate foi mais polarizado e focado em argumentos políticos”.
“Esta divergência indica que estratégias de comunicação e engajamento podem ser mais eficazes quando adaptadas ao ambiente digital específico, explorando as nuances de cada rede para atingir diferentes públicos. O que pode demonstrar uma primeira ação certeira da nova SECOM com a campanha”, afirma o levantamento, que sugere que o boné pode se tornar uma tendência popular e um símbolo de resistência.
Esquerda x Direita
No Instagram, a esquerda saiu vitoriosa na disputa digital, com treze perfis engajados contra apenas dois da direita. No total de interações, a vantagem também foi ampla: 167.091 interações para a esquerda, contra 40.095 da direita. Perfis conservadores ficaram atrás até mesmo de páginas da imprensa.
Por outro lado, ao analisar os desdobramentos da “guerra dos bonés”, a pesquisa aponta que, apesar dos esforços do governo para dominar a narrativa, a direita conseguiu maior presença no ranking de páginas e reações.
Foram onze perfis de direita contra cinco de esquerda. No total de reações, os números também favoreceram os conservadores: 20.558 contra 12.090. Ainda assim, a esquerda garantiu a liderança do ranking com Leonardo Stoppa.
A análise também identificou dois agrupamentos de narrativas, chamados de “clusters”. Eles representam os diferentes discursos que surgiram nas redes sociais sobre a polêmica do boné azul “O Brasil é dos Brasileiros” e sua relação com o embate político entre os grupos de Lula e Bolsonaro.
O primeiro grupo de narrativas vê o boné como um símbolo de resistência popular, destacando sua criação por um jovem da periferia e sua aceitação como um elemento de orgulho nacional. Já o segundo grupo foca no contexto político da eleição para a presidência do Senado, apresentando o boné como parte de uma disputa estética e ideológica entre os dois grupos. “Enquanto o primeiro ressalta o impacto social e a apropriação popular, o segundo se concentra na rivalidade política e no confronto entre os partidos”.
Outro ponto de destaque foi a ausência das principais lideranças na polêmica. “Tanto a página de Lula quanto a de Bolsonaro evitaram o tema e deixaram que apoiadores administrassem a discussão inicial”, aponta a pesquisa.
Leia a pesquisa completa aqui.
À TVGGN 20 Horas, a professora da Universidade Metodista de São Paulo e líder do grupo de pesquisa Jornalismo Humanitário e Media Interventions (HumanizaCom), Cilene Victor, analisou o assunto em entrevista ao jornalista Luis Nassif. “A frase é perigosa porque beira o nacionalismo. O Brasil não é dos brasileiros, mas daqueles que estão neste país – venezuelanos, ucranianos, afegãos. Temos que tomar cuidado com essas estratégias muito rápidas. O ponto central está na régua, no nível que vamos usar para dialogar com o senso comum”. Veja a entrevista completa aqui.
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